Mesmo que pareça natural, todo dono de pet deve saber que a agressividade de um cachorro nunca é algo que acontece sem motivo. Ainda que você tenha um animal que carrega a fama de bravo, saiba que até o ataque de Pitbull, por exemplo, é justificado. Geralmente, o comportamento agressivo tem ligação com a forma como o cão foi criado e não costuma ser um traço inevitável da raça — mas essa não é a única variável que pode causar esse tipo de situação. Para entender mais sobre o que pode causar e como lidar com o ataque de cachorro, nós conversamos com a Renata Bloomfield, veterinária e comportamentalista animal. Dá uma olhada no que ela contou pra gente!
Ataque de cachorro: as diferentes causas para o problema
“A agressividade costuma ser uma válvula de escape para o animal sair de uma situação que ele não consegue se ver livre de outra forma”, explica Renata. Ela continua: “Um animal com medo, por exemplo, pode ser agressivo para tentar afastar a pessoa de quem ele tem medo ou não confia. Além disso, também é muito comum que cachorros com dor ou idosos sejam agressivos, já que na senilidade, é comum que o animal tenha doenças incômodas e dolorosas, como a artrose”.
No caso de ataque de cachorro gerado por um desconforto, medo ou porque o animal não sabe reagir a determinadas situações, a causa geralmente é ligada a uma socialização ineficiente do animal ao longo da vida. “A agressividade leve é muito comum no filhote que ainda não teve contato com o mundo exterior e, mesmo não sendo nada grave, deve ser contornada. As pessoas costumam achar bonitinho quando ele começa a rosnar durante o carinho, por exemplo, e acabam incentivando esse tipo de comportamento. Ele acha que rosnar é legal, depois passa para a mordida de brincadeira e dessa para uma mais séria é um passo. Esse animal fica agressivo porque isso foi o que ele aprendeu a vida toda”, conta a profissional.
Antes do ataque de cachorro, o animal dá sinais de que está perdendo a paciência
Tirando o ataque de cachorro causado por dor, que é mais repentino — se você encostar na parte do corpo dele que está doendo, ele vai te morder por reflexo —, o animal sempre vai tentar demonstrar de alguma forma que não está confortável antes de ser agressivo. A linguagem canina costuma ser diferente de animal para animal, mas existem alguns sinais comuns: “geralmente ele começa a desviar a cabeça e não olhar nos seus olhos. Ele vai estar com as orelhas para cima, o rabo para cima, os pelos eriçados e o peito estufado para tentar parecer maior. Nesse momento, o cachorro está te falando que é pra você parar de fazer o que está fazendo, recuar de alguma forma e deixar ele em paz”, afirma Renata.
Uma outra possibilidade é a do animal que ataca por medo: “nesse caso, ele fica com o rabo bem para baixo, entre as patinhas, com as orelhas para baixo também. Isso demonstra que ele está assustado e nada confortável com a situação. Nem sempre esse animal vai mostrar os dentes ou rosnar para demonstrar que está prestes a atacar. Eu já fui mordida quando fui fazer carinho em um cachorro que tinha deitado de barriga pra cima porque não entendi que ele queria apaziguar a situação. Nos dois momentos, a gente precisa respeitar o animal: não é o momento de fazer algum tipo de intervenção relacionada ao comportamento dele”, disse a profissional.
Esse tipo de situação deve ser trabalhada com o adestramento de cães em outros momentos da vida do animal: logo depois do ataque, dar uma bronca pode reforçar que ele está certo ao sentir medo do tutor, por exemplo. Se o cachorro estiver machucado ou doente, o ideal é ignorar o ataque e fazer de tudo para aliviar o problema.
Os sinais de apaziguamento: como saber que o animal entendeu a bronca depois de algum erro
O comportamento agressivo de um cachorro, geralmente, é algo que se cultiva ao longo do tempo. Renata conta que se o cachorro chegou ao extremo de morder alguém é porque alguma coisa falhou ao longo da educação desse animal. “De repente você tem um animal filhote que ainda não sabe nada da vida. Quando ele faz uma besteira, por exemplo, e você vai dar uma bronca, ela deve ser pontual, na hora que você viu. Muita gente não repara que o animal já entendeu o recado e começou a fazer os sinais de apaziguamento: ele abaixa as orelhas, desvia o olhar, coloca o rabo entre as patas… nesse momento, a sua bronca já foi eficaz. Continuar brigando com ele depois disso e repetir isso sempre que algo parecido acontecer pode deixar o cachorro medroso ou confuso a longo prazo — o que pode levar a uma agressão”, explicou Renata.
O que fazer quando o cachorro começar a ficar agressivo?
O reflexo de brigar com o cachorro logo depois que ele foi agressivo é super natural, mas para trazer resultados eficazes para a educação dele, o ideal é evitar essa prática. “É bem comum que a bronca venha quando o animal já está começando a demonstrar os sinais de agressividade, justamente o que não pode acontecer. O melhor a se fazer, nesse momento, é desviar a atenção do animal: se ele rosnar e você brigar, na próxima vez ele não vai rosnar, vai morder direto. Mudar a direção do foco é sempre a melhor forma de trabalhar a agressividade do animal”, conta a veterinária. Se o comportamento agressivo do cachorro estiver colocando outra pessoa ou animal em risco, o ideal é contar com a ajuda de um profissional. “Nesses casos, a gente tem que entrar com uma medicação que vai auxiliar no manejo do animal, ou seja: no adestramento, na mudança do ambiente em que ele vive etc. Não podemos permitir que ele seja um potencial agressor, colocando alguém em risco”. Converse com o seu veterinário para descobrir a melhor forma de agir nesses momentos
Redação: Ariel Cristina Borges