As doenças nos olhos de cachorro são mais comuns do que a gente pensa. Catarata, uveíte, conjuntivite, glaucoma… são vários os problemas que podem afetar a visão dos nossos pets. A atrofia progressiva da retina em cães, por exemplo, é uma doença degenerativa que acomete várias raças de cachorro e que pode deixar o animal cego a longo prazo. Para entender melhor do que se trata esse quadro, quais são as causas e como é feito o tratamento desse problema no olho do cachorro, o Patas da Casa conversou com o veterinário oftalmologista Thiago Ferreira, de Florianópolis. Veja o que ele disse!
Atrofia progressiva da retina em cães: o que é e quais as causas da condição?
Mesmo com o nome complexo, não é muito difícil de entender do que se trata essa doença nos olhos de cachorro. O especialista explica: “Resumidamente, a atrofia progressiva da retina em cães é uma morte generalizada das células da retina, chamadas de fotorreceptores. Isso acontece por causa de uma programação errada no DNA dessas células, gerando uma reação em cadeia dentro da célula que leva à morte”.
Ao contrário de outros problemas no olho do cachorro que podem ter origens externas, a atrofia da retina em cães é causada principalmente pelos fatores genéticos do animal. “A genética influencia nisso porque hoje os tipos de atrofia progressiva da retina se diferenciam justamente pelos genes. Os genes, por sua vez, são responsáveis pela codificação do DNA para determinadas características e, dentre essas mesmas características pode estar o desenvolvimento de proteínas que levam a célula ocular à morte”, conta o oftalmologista. Por isso, até então, os fatores genéticos são tidos como os agentes causadores da atrofia da retina em cães.
Doença no olho do cachorro: a atrofia progressiva da retina não tem sinais clínicos aparentes
Segundo o especialista, os sintomas estão diretamente relacionados com as células que estão sendo degeneradas, principalmente no início da doença. “As primeiras células que morrem são chamadas de bastonetes, que são células que trabalham melhor com pouca luz. Então os cães passam a enxergar mal no escuro ou em ambientes com pouca luz”, explica o médico veterinário. Em casa, normalmente não é muito fácil de perceber isso porque o cachorro já tem uma familiaridade com o espaço, mas em lugares desconhecidos o cachorro pode acabar esbarrando em objetos ao redor se estiver escuro.
“O olho do cachorro não apresenta sintomas externos visíveis. O que pode acontecer é o animal desenvolver uma catarata secundária a esse processo degenerativo, em função dos radicais livres e substâncias oxidantes da retina. Isso pode causar uma catarata, então esse é o único sinal externo que as pessoas acabam vendo”, conclui Thiago.
Como é feito o diagnóstico da atrofia da retina em cães?
Por meio da avaliação clínica é possível diagnosticar estágios moderados e avançados da atrofia progressiva da retina, mas, conforme o oftalmologista explica, nos estágios iniciais nem sempre é fácil de identificar isso devido à pouca alteração no fundo do olho. “O que pode-se fazer é um teste chamado reflexo foto pupilar cromático, que é uma medida qualitativa da contração da pupila por uma luz com filtro vermelho e azul. Contudo, o que fecha mesmo o diagnóstico é a eletrorretinografia”. O exame serve para avaliar a resposta da retina aos estímulos luminosos e é muito recomendado antes da cirurgia de catarata em cães para saber se o quadro é secundário ou não à atrofia progressiva da retina.
Atrofia progressiva da retina em cães: tratamento é feito com uso de antioxidantes
Muitos tutores se perguntam se a atrofia progressiva da retina em cães tem cura, mas infelizmente a resposta é não. “Essa doença no olho do cachorro acaba progredindo para a cegueira. O tratamento mais indicado é com o uso de antioxidantes (luteína, licopeno, vitamina C e E, selênio, zinco) para retardar a evolução do problema, mas em algum momento o paciente acaba ficando cego”, informa o médico. Algumas pessoas acreditam que esse tipo de tratamento é um pouco polêmico porque, segundo Thiago, ele não consegue intervir onde a doença realmente atua, no entanto, ele é capaz de atrasar a morte celular e proteger as células que ainda não apresentaram o defeito genético.
“As células que ainda funcionam podem acabar morrendo por causa de uma célula vizinha, que libera uma substância chamada glutamato. O glutamato pode destruir e matar outras células saudáveis, então os antioxidantes, de certa forma, protegem essas células, embora isso não tenha sido comprovado cientificamente ainda. O que eu vejo na prática é os pacientes que fazem esse tipo de tratamento tem uma permanência maior da visão por muito mais tempo do que aqueles que não fazem uso dessa medicação”, finaliza.
É possível prevenir essa doença no olho de cachorro?
Manter as consultas com o veterinário sempre em dia pode ajudar bastante no diagnóstico precoce, mas prevenir totalmente a atrofia da retina em cães não é possível. Então, se o paciente tem no DNA dele esse gene, vai acabar desenvolvendo a doença. “O que se tem feito nos Estados Unidos é mapear geneticamente os pacientes, para verificar se tem algum defeito nos genes específicos para a doença. Se ele for afetado, preventivamente pode-se fazer um tratamento pela manipulação viral, mas é um estudo muito recente e que ainda não teve resultados conclusivos. Os resultados preliminares têm mostrado que isso funciona, mas ainda é um tratamento muito caro - em torno de 10 a 20 mil dólares - e no Brasil é inviável”, conta Thiago.
Redação: Juliana Melo