Será que os gatos podem ter depressão? Se você já viu um gatinho triste e cabisbaixo, esse questionamento certamente passou pela sua cabeça. Afinal, não é do feitio dos felinos perder o interesse por coisas que eles gostam, como correr atrás de brinquedos ou saborear um petisco. Então como saber se um gato tem depressão? Como essa doença se manifesta no comportamento felino e quais os principais indícios de que o animal precisa de ajuda? Para sanar todas as dúvidas sobre o assunto, o Patas da Casa conversou com a médica veterinária Vanessa Zimbres, da clínica Gato é Gente Boa. Veja só o que ela nos contou!
Patas da Casa: os gatos podem ter depressão? Como isso acontece?
Vanessa Zimbres: segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão é definida como um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias durante, pelo menos, duas semanas. Em animais, essa condição também já é conhecida e os especialistas em comportamento a definem com "ausência de alegria".
Nos gatos, em especial, que podemos considerar como animais "semi domesticados", essa condição pode ser mais comum e mais subestimada do que imaginamos, pois um gato que não tem a oportunidade de expressar seu comportamento natural pode desenvolver problemas comportamentais que, em muitos casos, são associados a um quadro de depressão.
PDC: O que pode causar a depressão felina?
V.Z: Partimos do princípio de que gatos são animais territorialistas, independentes e caçadores. Quando o felino não tem a oportunidade de manifestar esse comportamento, já é motivo para ser um gato depressivo. Eles precisam de áreas seguras de descanso em locais altos, sem acesso de outros animais e que seja tranquilo; além de arranhadores para que possam afiar as unhas. Também devem ter a oportunidade de expressarem seus comportamentos de caça e sentidos, como tato e olfato; devem ter seu tempo e espaço respeitados, incluindo a interação com pessoas. E o mais importante é disponibilizar tudo isso para cada gato, principalmente em residências onde existem gatos coabitando.
Outros fatores que podem desencadear o estresse em um gato e predispor a desenvolver quadros de depressão são situações que fujam de um ambiente previsível. Alguns exemplos são: mudança na rotina, como viagem dos seus tutores ou novo horário de trabalho, adoção de outro animal, mudança de alguém da família, morte de alguém da família ou de um gato companheiro, mudança de casa, reformas, dentre vários outros.
PDC: Como identificar um gato com depressão?
V.Z.: Um gato com depressão vai perder o interesse em fazer coisas do dia a dia, vai ficar mais tímido e retraído, incluindo sua relação de interação com o tutor, não o procurando para receber carinho, diminuindo o seu ronronar ou até mesmo sendo agressivo quando tocado. Alguns gatos podem desenvolver sintomas mais graves, como alterações no apetite, perda ou ganho de peso, diminuição da sua higienização, lambedura compulsiva, dentre outros.
PDC: O que fazer ao perceber um gato depressivo?
V.Z: Antes de presumir que um gato pode estar deprimido, um veterinário especialista deve ser consultado para identificar a possibilidade da existência de qualquer doença física. Muitos gatos com dor crônica podem manifestar os mesmos sintomas que um gato com depressão ou estresse. Gatos que se tornam agressivos à medida que envelhecem, podem, simplesmente, estarem sentindo dor! De nada adianta fazer um tratamento comportamental se o problema é físico. Sendo o gato um mestre em esconder doenças, o clínico especialista em felinos é o melhor profissional a ser consultado. Gatos se comportam diferente de cães! Após descartado qualquer problema de saúde física, o especialista clínico pode, ainda, trabalhar em conjunto com o especialista em comportamento para ajudar o paciente.
PDC: Existe tratamento e cura para a depressão em gatos?
V.Z: Sim, por isso é tão importante conhecer, não somente o comportamento felino, como também tentar descobrir onde está o problema. Conversar com o tutor, conhecer suas rotinas, o ambiente que o animal vive e manejá-lo pode ser o suficiente para sanar o problema. Medicamentos somente em último caso! Como na medicina humana, o tratamento de depressão consiste na administração de antidepressivos em conjunto com a psicoterapia, que no caso dos gatos é feita com o enriquecimento ambiental. Em casos mais graves, o uso de ansiolíticos pode ser associado ao tratamento com bons resultados, desde que acompanhados pelo especialista.
PDC: É possível prevenir a depressão felina? Se sim, como?
V.Z: Sim! Podemos não somente prevenir, como tratar a depressão dando a oportunidade de o gato ser um gato! A primeira coisa a se considerar é uma rotina. E quando dizemos rotina não significa que queremos algo tedioso e, sim, previsível. Gatos gostam de acordar, comer, usar a caixinha nos mesmos horários pela manhã, ter sua hora de descanso, hora de brincadeira e por aí vai.
Podemos evitar o tédio colocando grãozinhos de ração em comedouros especiais ou em brinquedos em diversos locais escondidos pela casa. Deixar brinquedinhos diferentes e incentivar a caça fazendo-os brincar com varinhas junto ao tutor por, pelo menos, 15 minutos ao dia. Lembrar que da mesma forma que crianças enjoam de brinquedos, os gatos também! E como os brinquedos mimetizam a caça, eles vão os destruir! A disponibilidade de arranhadores e tocas para eles se exercitarem, esconderem ou mesmo descansarem, também é importante.
Se o estresse for algo previsível, como mudança de casa, reforma, ou mudança de alguém da família, além de todas essas distrações, podemos fazer o uso de feromônio sintético felino no ambiente de acordo com a situação.
Devemos nos lembrar que gatos são animais que dão a falsa impressão de que são de baixa manutenção. Eles não precisam sair para passear para fazer suas necessidades, em contrapartida, sofrem em silêncio quando não tem a oportunidade de serem gatos. A saúde de um pet vai além de bom alimento, caminha macia e caixinha de areia limpa. Precisamos nos atentar à saúde mental dos nossos bichanos para termos gatos mais felizes em casa!
Redação: Juliana Melo