O câncer em cachorro é a principal causa de morte em cães acima dos dez anos de idade. No caso da neoplasia testicular canina – popularmente conhecida como câncer de testículo –, a doença afeta principalmente cachorros machos idosos não castrados. Além da idade avançada, a presença de testículos não descidos (criptorquidismo) é outro fator que contribui para a formação de tumores no sistema genital canino.
Um estudo publicado pela revista acadêmica BMC Veterinary Research , em 2014, apontou que 27% do grupo de risco acaba desenvolvendo, em algum momento da vida, um ou mais tumores testiculares. No total, estima-se que eles representem, pelo menos, 4% a 7% de todos os tumores encontrados em cães machos. Das causas ao tratamento, passando pelo diagnóstico e métodos de prevenção, confira, a seguir, tudo sobre o assunto, com o apoio das informações da veterinária oncologista Caroline Gripp, do Rio de Janeiro.
Quais são as causas da neoplasia testicular canina?
Como na maioria dos cânceres, a causa do desenvolvimento de tumores testiculares não é tão clara. O que se sabe é que há um grupo específico de cachorros que são mais afetados por essa condição, como explica a veterinária Caroline Gripp: “o câncer testicular é uma neoplasia de ocorrência comum em cães machos não castrados. É uma doença que costuma aparecer entre 8 e 10 anos de vida do animal".
No entanto, cães machos com um ou ambos os testículos que não desceram da cavidade abdominal (criptorquidismo) têm muito mais probabilidade de desenvolver um tumor em relação aos cachorros com testículos normais.
Neoplasia canina: tipos de tumores testiculares em cães
Uma variedade de tumores afeta os testículos. Os três tipos mais comuns se desenvolvem a partir de células germinativas (seminomas), responsáveis pela produção de espermatozoides; células intersticiais ou de Leydig, que produzem testosterona; e células de Sertoli, que auxiliam no desenvolvimento dos espermatozoides. Quase metade dos cães com neoplasias testiculares apresenta mais de um tipo de tumor testicular.
- Seminomas: a maioria dos tumores seminomas é benigna e não tende a se espalhar. No entanto, alguns podem desafiar a regra e metastatizar para outros órgãos do corpo.
- Tumores de células intersticiais (Leydig): esses tumores testiculares são os mais comuns e geralmente são pequenos e benignos. Eles raramente se espalham ou agem de forma agressiva. Os cães afetados com esse tipo de tumor apresentam poucos sintomas.
- Tumores de células de Sertoli: possuem maior potencial de malignidade entre todos os tipos de tumores testiculares. São mais comuns em animais criptorquidas e tendem a se espalhar mais agressivamente que os outros.
Quais são os sintomas na neoplasia canina nos testículos?
Segundo Caroline, o próprio tutor pode perceber a neoplasia testicular canina ao notar (olhando ou apalpando) alterações em um ou dois testículos do animal. "O dono pode observar uma possível ocorrência da doença por meio da assimetria entre os testículos [um maior que o outro], inchaço em ambos, além de dor quando o animal é tocado no local. Mas o sinal mais perceptível é realmente o inchaço nos testículos", relata a profissional.
No caso de algumas células produtoras de estrogênio, sinais de feminização podem ficar evidentes em cães afetados pela doença. Nesse caso, o aumento das glândulas e mamilos mamários, prepúcio pendular, perda simétrica de pelos, pele fina e hiperpigmentação (escurecimento) da pele podem indicar a neoplasia canina nos testículos.
O que fazer em caso de suspeita de neoplasia testicular canina? Como é feito o diagnóstico?
Caso o tutor observe que o seu animal de estimação está com inchaço, assimetria e/ou desconforto na área dos testículos, é importante que ele procure atendimento veterinário o quanto antes. "O tutor deve levar o cão imediatamente ao veterinário para que seja feito o diagnóstico. Se a neoplasia canina for confirmada, o cão deve passar por cirurgia para a retirada em bloco dos testículos e também da bolsa escrotal", alerta a oncologista.
Além do exame físico, como palpação escrotal e exame retal (para sentir a presença de possíveis massas), o profissional poderá identificar os tumores testiculares com radiografias de tórax e abdômen, hemograma completo, ultrassonografias abdominal e escrotal, além da histopatologia (biópsia) do testículo removido.
Como é o tratamento da neoplasia testicular canina?
"O pilar do tratamento desse tipo de câncer em cachorro é a intervenção cirúrgica para remoção do(s) testículo(s) afetados e bolsa escrotal. Após essa cirurgia, o material é enviado ao laboratório de histopatologia para saber qual neoplasia o animal apresenta (tipo do tumor). Em alguns casos a cirurgia é curativa, enquanto em outros é necessário instituir a quimioterapia também", explica Caroline.
Quando a quimioterapia em cachorro é recomendada, o tratamento deve ser feito com rigor para que o animal consiga a cura clínica completa. “Os cães, de maneira geral, reagem muito bem à quimioterapia e não costumam apresentar os efeitos colaterais que vemos em humanos, como prostração e vômitos, por exemplo. Para que o cachorro obtenha os melhores resultados, é importante que o tutor não falte as sessões e siga o tratamento adequadamente”, ressalta a oncologista.
Quais são os cuidados com o cão em tratamento?
Após a remoção dos testículos e bolsa escrotal, o pós-operatório deve incluir alguns cuidados para que o animal se recupere bem. “Reduzir as grandes estripulias do cão nesse momento é um desafio, mas é extremamente necessário. É preciso ficar de olho para que o animal não mexa nos pontos e nem faça muito esforço", reforça Caroline.
Felizmente, a cirurgia é curativa para grande parte dos tumores testiculares, como afirma a veterinária: "a taxa de sobrevivência dos animais afetados é alta na maioria dos tumores, com expectativas de vida bem elevadas. A prevenção e o diagnóstico precoce ajudam a aumentar a sobrevida, assim como a qualidade de vida do cachorro”.
Quais são as formas de prevenção da neoplasia testicular canina?
Além de visitas frequentes ao veterinário para exames de rotina, a neoplasia testicular canina pode ser evitada ao castrar o animal. “A melhor maneira de prevenir esse tipo de câncer é com a castração do cachorro, de preferência até os 5 anos de idade", recomenda a oncologista. Os prós e os contras do procedimento de castração de cachorro devem ser discutidos com um veterinário de sua confiança, de preferência antes da adolescência canina.
Redação: Guilherme Segal