Ter um cachorro com paralisia nas patas traseiras ou dianteiras é um cenário que nenhum tutor gostaria de imaginar, muito menos viver. Mas, às vezes, imprevistos podem acontecer e deixar o cãozinho sem conseguir se movimentar como antes. A hérnia de disco em cachorro, por exemplo, é um fator de risco nesses casos. Foi o que aconteceu com Meg, cadelinha da Thays Panar, que ficou com as patas traseiras paralisadas de uma hora para outra.
O desespero foi grande em um primeiro momento, mas, com muito esforço, a família encontrou uma alternativa que ajudou na recuperação da pet e ela voltou a andar. Conheça a história da Meg, uma cachorrinha vira-lata, a seguir!
Meg virou uma cachorra com paralisia nas patas traseiras de repente
A cachorrinha de Thays, Meg, não tem raça definida (SRD) e, segundo a tutora, sempre foi muito ativa. Ela corria, brincava, frequentava creche para cachorro, parcão e acompanhava a família em todos os lugares. Nunca tinha dado nenhum sinal de qualquer problema no coluna, até em em junho de 2022 tudo mudou.
“Notamos que ela estava mais quietinha. Estranhei esse comportamento, que não era típico dela. Levei em um hospital de confiança, falaram que ela estava com um "desconforto" na coluna, medicaram e marcamos exames para o dia seguinte. Mas, naquela mesma noite, ela simplesmente paralisou as patinhas traseiras, não conseguia andar, nem levantar sozinha… Corremos novamente para o hospital e disseram que era uma hérnia de disco super séria e precisava operar com urgência (ela já não tinha mais dor profunda e nenhum reflexo nas patas)”, relembra.
Hérnia de disco em cachorro: como foi o pós-cirúrgico de Meg?
Após o diagnóstico da hérnia de disco em cachorro, Meg fez uma cirurgia de emergência. Ainda assim, Thays conta que o veterinário do hospital já havia adiantado que, pelas condições da cachorrinha, era bem provável que ela não voltaria a andar. “De fato, ela saiu da cirurgia sem sequer conseguir levantar sozinha. A gente adaptou a casa toda para ela com tapetes emborrachados. Tínhamos que alimentá-la na boca e massagear a bexiga para ela conseguir urinar, porque nem isso ela conseguia sozinha.”
Apesar da situação, a tutora não se deu por vencida. “Imagina, uma cachorra de 3 anos, super ativa. Como que não ia voltar a andar?”, desabafa. Foi assim que a dona de Meg moveu montanhas para recuperar os movimentos da cachorrinha. Acupuntura veterinária, ozonioterapia, laser: tudo que era possível, a tutora agendava à domicílio. Quando Meg recuperou um pouco dos movimentos, passou a fazer também hidroterapia em uma clínica de reabilitação.
Em paralelo a isso, Thays consultou um veterinário especialista em casos assim e que tinha boas recomendações. Foi feita uma ressonância magnética, que constatou que Meg tinha uma lesão na medula. “Cirurgicamente, não havia mais nada que pudesse ser feito. Deveríamos continuar com os tratamentos, para fortalecimento, para não atrofiar. Mas uma melhora, de fato, seria pouco provável”, revela. Esse mesmo especialista também comentou sobre o tratamento com células-tronco — e foi aí que todo o cenário mudou.
Cachorro com hérnia de disco volta a andar após tratamento com células-tronco
O tratamento em questão foi sugerido como uma aposta. Como o próprio médico alertou, não tinham muitos casos de êxito com essa alternativa. Isso porque normalmente as pessoas só recorrem a ele como último recurso, mas Thays estava determinada a fazer de tudo que estivesse ao seu alcance para ter a recuperação de Meg. “Se não desse certo, não seria por falta de tentativa.”
Foi assim que a família encontrou a dra. Giovanna Biase, que é médica veterinária especializada em ortopedia e cirurgia de pequenos animais. “Ela avaliou o caso da Meg e disse que o tratamento era sim indicado para ela e poderia trazer resultados”, conta Thays.
Sobre o procedimento, dra. Giovanna lembra: “Quando a Meg chegou, ela já tinha sido operada. Ela teve uma lesão na medula, teve uma hérnia de disco, foi operada e não estava ainda com uma boa recuperação. Indicaram o tratamento de células-tronco e aí eu comecei a fazer por via epidural. Então a Meg foi até a clínica, a gente anestesiou, fez a injeção na coluna, fez a aplicação de células-tronco e aí conforme a gente vai vendo evolução ou não a gente decide se vai fazer mais aplicações ou não.”
Após a primeira aplicação, a resposta da Meg foi muito boa. Logo depois da segunda aplicação, a cadelinha voltou a andar, fazendo a felicidade da tutora, que comenta: “Ela ainda tem alguns dias melhores e outros não tão bons, mas recuperou totalmente a autonomia dela. Nos dias bons, quem vê ela passeando nem percebe qualquer problema. A gente continua em tratamento preventivo com acupuntura e fisioterapia para cachorro, mas consideramos uma grande vitória. Por isso, eu defendo muito esse tratamento de células tronco.”
A vitória de Meg, certamente, não teria acontecido sem todo o empenho e esforço dos tutores. É o que acrescenta a dra. Giovanna: “Eu via tutores muito dedicados, muito responsáveis e uma cachorrinha muito boazinha, muito querida. Então os desafios foram mínimos. Quando a gente tem um animal colaborativo, tutores colaborativos, normalmente a gente tem uma uma resposta mais fácil. Concomitante a isso, ela fez fisioterapia que também ajuda muito na evolução, no ganho de massa muscular, fortalecimento reaprender a andar. Então isso também ajudou muito. Tudo colaborou pra que a Meg tivesse eh uma evolução de sucesso, e espero que ela tenha uma vida muito longa e feliz, porque ela e a família dela merecem muito”.
O que é o tratamento com células-tronco?
Muitos tutores procuram formas de como fazer fisioterapia em cachorro para voltar a andar e, dependendo do caso, a fisioterapia pode, sim, ser uma grande aliada. No entanto, o tratamento com células-tronco é outro que vem ganhando bastante espaço para recuperar pacientes.
As células-tronco são células que têm capacidade de se multiplicar e se adaptar às funções de quaisquer tecidos do organismo. Ou seja, elas são capazes de promover o restabelecimento de um órgão ou até de uma lesão, restaurando funções e estruturas que foram “perdidas”.
“Lembrando que as células-tronco são algo que a gente já tem no nosso organismo. Mas quando a gente pega de um banco de células, a gente está colocando bem concentrada naquele nicho que está um pouco pobre em regeneração para que ele tenha um estímulo maior para conseguir fazer isso”, explica a médica veterinária.
De acordo com Giovanna, as células podem ser coletadas do próprio animal que vai receber o tratamento. “Hoje a gente sabe que o tecido adiposo tem uma quantidade muito grande de células-tronco. Então você pode ir ali no tecido adiposo, coletar um uma gordura mais densa, mandar pro laboratório. Esse laboratório vai extrair células-tronco desse tecido, vai diferenciá-las e prepará-las até que elas estejam prontas para serem usadas.” Outra alternativa é contar com bancos de células-tronco, que usam células primitivas que não vão ser rejeitadas pelo organismo.
Além da hérnia de disco em cachorro, em que casos o tratamento com células-tronco é indicado?
Para esclarecer o assunto, a médica veterinária Giovanna explica que o tratamento de células-tronco tem indicação em várias situações e doenças. Algumas delas são:
- Olho seco (ou ceratoconjuntivite seca)
- Sequelas de cinomose
- Aplasia medular
- Doenças nos ossos do cachorro (como osteoartrose das articulações do joelho, cotovelo, carpos, tarsos, ombro, corte femoral)
- Lesões medulares (como é o caso da Meg)
E como a aplicação é feita? Sobre isso, a especialista orienta: “Dependendo de qual é a doença que você vai tratar, a aplicação ela pode ser inloco ou na veia. Quando a gente vai tratar, por exemplo, uma sequela de cinomose, que é uma doença mais sistêmica, a gente faz essa aplicação na veia. E aí são três ou quatro aplicações em intervalos de trinta dias. Já quando a gente vai aplicar pra osteoartrose, a gente faz dentro da articulação; e quando vai aplicar para olho seco, a gente faz dentro da glândula lacrimal.”
No caso de lesões na medula, por outro lado, a médica veterinária explica que a aplicação pode ser feita tanto por epidural — que é uma injeção na coluna — quanto no transoperatório, que ocorre quando o animal está sendo operado. “Na hora que termina a cirurgia, a gente embebeda ali a medula com as células-tronco e sutura, e aí termina a cirurgia.”
Ainda sobre este tipo de tratamento, a médica veterinária ressalta: “A gente tem algumas algumas ressalvas pra aplicação. O animal não pode ter nenhum tumor. Porque apesar dela não ter um potencial de fazer aparecer um novo tumor, se já tem um tumor existente ela pode alimentar esse tumor e fazê-lo crescer. Fora isso, não tem outras contraindicações e não tem efeitos colaterais também.”