Só quem tem um cachorro sabe como a simples companhia desses animais é capaz de mudar o nosso dia para melhor. Mas como escolher um amigo de quatro patas no meio de tantos outros bichinhos? Bom, antes de ter um cachorro, o tutor geralmente leva em consideração diferentes aspectos, como a raça, a cor dos pelos ou o porte do animal. O tamanho de cachorro, aliás, acaba sendo um dos critérios mais relevantes na hora de fazer essa escolha. Muita gente acaba associando que os cachorros de porte pequeno, por exemplo, são mais fáceis de lidar no dia a dia e conseguem se adaptar melhor a apartamentos e espaços mais reduzidos. Mas será que isso realmente condiz com a realidade?
Bom, a verdade é que embora o cachorro pequeno ocupe menos espaço, de fato, isso não quer dizer que ele vai dar menos trabalho do que um cachorro grande. Inclusive, é importante desmistificar a ideia de que os cães maiores são necessariamente mais agitados e energéticos só por causa do seu tamanho. Até mesmo porque existem cachorros de grande porte que são tão tranquilos que também conseguem viver perfeitamente em apartamentos sem sair “quebrando tudo”, como muitos pensam.
Tamanho do cachorro costuma ser um fator relevante para a maioria dos adotantes
Não dá para negar que a maioria dos tutores sempre procura cachorros de pequeno porte na hora de comprar ou adotar um bichinho. O motivo para isso é simples: segundo Yasmin Jacob, voluntária do projeto de resgate animal AUmigos do Bem, essa preferência acontece porque grande parte das pessoas alega morar em um apartamento pequeno e que não daria para abrigar cachorros maiores. “É um tabu enorme que dificulta bastante na hora da adoção. Acho que é mais medo de não dar conta, atrelada a uma falta de noção espacial, porque se você for parar para pensar, um cachorro maior precisa dos mesmos cuidados que um cachorro de porte pequeno: tem que ter o cantinho dele, passear, dar comida, banho...”, destaca.
Além do mais, essa dificuldade também se aplica de acordo com a fase de vida do animal, já que os filhotes são os preferidos na hora da adoção. “O filhote de cachorro chama a atenção por causa da fofura, mas quando a gente divulga um animal que já é maiorzinho, a dificuldade de doá-lo é muito maior”, explica a voluntária. Isso acaba sendo um problema porque a maioria dos cães resgatados são vira-latas e é muito difícil encontrar cachorros desse tipo que correspondam ao porte pequeno. Geralmente, são animais de médio porte ou um cachorro grande mesmo. Então o que acontece é que os adotantes ou desistem de primeira ou falam que “vão ver” e depois somem, segundo conta Yasmin.
Cachorro grande ou pequeno: comportamentalista afirma que o nível de energia independe do tamanho do animal
Para quem acha que o tamanho do cachorro está associado com ao seu nível de energia, chegou a hora da verdade. De acordo com o comportamentalista Igor Simões, do Rio de Janeiro, não dá para dizer que o porte do cachorro tem total influência no comportamento dele. “Cães grandes não são necessariamente mais agitados e cães pequenos não são sempre menos energéticos. Tudo vai depender de como essa energia é trabalhada e da forma como o animal recebe esses estímulos. Afeto, exercícios e até alimentação: é um conjunto de fatores que influencia na energia do cão”, explica.
Tanto é que, muitas vezes, cães da mesma raça e até da mesma ninhada tem comportamentos e traços de personalidade completamente diferentes. Eles podem ter nascido juntos, mas a forma como encaram o mundo não vai ser a mesma, e muito disso está relacionado principalmente aos estímulos que eles recebem dentro de casa. “Quanto mais estímulos, mais elevada vai ser a energia do cachorro pequeno ou grande”, ressalta Igor.
Cachorros de pequeno porte nem sempre são calmos e tranquilos
Antes de mais nada, é importante se desgarrar da ideia de que todo cachorro pequeno tem um comportamento calmo e tranquilo. Assim como acontece com os humanos, cada cãozinho é único e tem uma personalidade própria. Então não tem jeito: enquanto alguns animais são mais quietos e não dão tanto trabalho, outros são naturalmente mais agitados e adoram aprontar pela casa, como é o caso do Fred, cachorrinho do Victor Carvalho. O pequeno Pug de apenas 10,5 kg é bastante imprevisível, mas adora uma euforia. “Uma hora ele fica no dengo e depois parece que fica ligado no 220. No geral, ele é bem brincalhão e fica muito agitado. Brinca com os brinquedos, gosta de correr pela casa, se agarra com seus amigos de pelúcia e pula de um lado para o outro. Na cama, acontece a mesma coisa: ele vira uma maratonista e fica correndo pra lá e pra cá”, relata o tutor.
E não para por aí, já que mesmo com a baixa estatura o Fred não deixa nem um pouco a desejar quando o assunto é a sua força. Sim, é isso mesmo que você leu: os cães menores também podem ser surpreendentemente fortes. Claro que a situação não é a mesma por causa do tamanho do cachorro, mas ainda assim isso pode acabar dando certo trabalho, principalmente na hora dos passeios. “O Fred tá no páreo com um cachorro de grande porte porque mesmo sendo pequeno ele tem uma força muito grande. Não é à toa que eu fico todo marcado. Ele consegue se desvencilhar com muita facilidade quando está no colo e quando levo na praça faz muita pressão na guia. Se tiver distraído, ele até me puxa. Então, acho que ele dá trabalho como um cachorrão mesmo”.
Para conter os momentos de excitação do seu pet, Victor baixou um aplicativo de adestramento nos últimos meses que o ajudou bastante. Um exemplo disso é que antes o Fred não conseguia nem esperar o momento certo de receber petiscos, e agora ele já espera sentadinho para ganhar o “mimo”. Além disso, outra estratégia utilizada pelo tutor é deixar o doguinho ficar bem cansado, pois desta forma o cachorro perde o pique de ficar correndo pela casa e só vai querer relaxar. Mas, mesmo causando uma baguncinha, Victor não trocaria seu amigo de quatro patas por nada nesse mundo: “Mesmo sendo mini pestinhas, os cachorros de pequeno porte merecem muito carinho, do tamanho da bagunça que eles criam”.
“Quero adotar um cachorro de porte pequeno!” Veja algumas dicas de como lidar com um cãozinho agitado
Os cachorros de pequeno porte conquistam facilmente qualquer um com a sua aparência fofa e carismática. Mas é preciso ter certa atenção, pois deixar de estabelecer limites com o seu cãozinho pode acabar se tornando um problema com o tempo. “O tutor acaba amolecendo e sendo condescendente com o animal e o cão percebe esse poder”, explica o comportamentalista Igor. A peça-chave para evitar que o cachorro assuma esse tipo de atitude é apenas uma: assertividade.
“É importante saber quando e como agir, você também não pode só punir o animal. Ele precisa entender que a situação que ocorreu não foi legal, então é importante sim saber agir com assertividade sem ser agressivo e sem punir o animal de forma desmedida”, orienta. Por isso, a dica para lidar melhor com um cachorro pequeno e que dá muito trabalho, além de fazer exercícios físicos regularmente, é com a correção de alguns comportamentos. Alimentar ou ignorar essas atitudes por completo só vão piorar a situação, então busque sempre agir de forma assertiva de forma que o cão entenda que aquilo é errado, ou procure o auxílio de um adestrador profissional para isso.
Cachorro de grande porte pode se adaptar bem em apartamentos e quitinetes
Se por um lado o Fred é um cachorro de porte pequeno que gosta de pintar o sete dentro de casa, por outro, a Clarinha, cadela da Luana Sales, é uma verdadeira dama que sabe se comportar muito bem onde mora. A Golden Retriever mede em torno de 52 cm de altura e pesa aproximadamente 38 kg, mas o tamanho nunca foi um problema, como revela sua tutora: “A convivência com a Clarinha é ótima porque ela é uma cadela muito companheira e tranquila. Ela consegue se portar bem dentro de um apartamento, nunca quebrou nada e sabe os lugares que pode subir ou não. Eu diria que ela simplesmente não dá trabalho. Acho que ela se acostumou com as dimensões do apartamento, tem noção do tamanho e de como pode se movimentar sem que derrube tudo”.
Isso não quer dizer que não vão existir momentos em que o cachorro grande está mais agitado, mas pelo menos eles passam a ter uma noção maior de espaço e não tendem a causar nenhum problema. No caso da Clarinha, os momentos de maior excitação acontecem quando chega alguma visita e, para contornar isso, Luana tem uma estratégia: “sempre buscamos passear com ela antes de recebermos as visitas em casa, assim ela já gasta bastante energia antes”.
Vale ressaltar que, assim como qualquer animal, o cachorro de grande porte também precisa ter uma rotina de passeios e exercícios regulares. Além de ajudar na saúde física e mental do cão, essa também é uma medida que ajuda a manter o bom comportamento canino dentro de casa. “Acho, inclusive, que a Clarinha é bem tranquila pois temos o costume de levá-la para passear 3 vezes ao dia, sempre soltando-a em praças e praias, onde brinca muito”, conta Luana. “Acredito que a chave para ter um cachorro de grande porte que se comporte bem em casa é oportunizar sempre passeios com gasto de energia. Os cães grandes são super carinhosos e quando criados desde cedo no apartamento se adaptam e convivem bem com o espaço”, reflete Luana.
Adotar cachorro grande: o que você precisa saber antes de ter um desse em casa
Para quem sempre sonhou em ter um cachorro de grande porte dentro de casa, pode respirar aliviado! É totalmente possível adaptar cães maiores em pequenos ambientes, desde que eles sejam acostumados a isso desde cedo e que o tutor consiga suprir todas as necessidades básicas do animal. Segundo Igor, a prática de exercícios físicos associados a uma boa disciplina ajudam bastante nesse processo, ambos de forma moderada e ponderada. “O apartamento ou a casa pequena nada mais é do que uma toca para o cachorro grande. É um espaço de descanso, de repouso, não é um local de grande agitação. Deve-se manter o equilíbrio e calma, então recomendo evitar atividades muito exacerbadas dentro de casa e estabelecer regras para aquele espaço”.
O cachorro não vai entender por conta própria a dinâmica daquele espaço em que está inserido, então essa compreensão vem a partir do que o tutor ensina para ele. Mas é importante ter um pouco de paciência também, já que os cachorros não assimilam essas informações com tanta facilidade. Com calma e respeito, o tutor deve ir apresentando a casa como um local calmo e sempre com regras a serem seguidas.
Adoção deve ser feita de coração e independente do tamanho do cachorro
Se você decidiu adotar um cachorro, talvez seja o momento de se desprender um pouco da ideia que criou do seu novo amigo. Não dá para saber ao certo como o seu cachorro vai se comportar, mas isso certamente está muito mais ligado a maneira como ele será educado do que qualquer outra coisa. É importante saber como estimular o seu cãozinho, mas também estabelecer algumas regras dentro de casa para ele entender que ali é o local de descanso, independente do porte dele. Para Yasmin, do AUmigos do Bem, essa preferência por cachorros pequenos acaba sendo um problema para os cães maiores: “Colocar essa barreira é mais uma forma do cachorro grande ser negado pela vida e mais uma forma dele ser rejeitado por alguém. A dedicação que você vai ter com um animal, seja ele de qualquer tamanho, vai ser a mesma. Então acho que as pessoas têm que se identificar afetuosamente e não colocar uma barreira antes mesmo de ouvir, de saber, de conhecer, de falar com pessoas que possuem um cachorro de porte maior”.
Redação: Juliana Melo