Décadas após o desastre nuclear de Chernobyl, cientistas fizeram uma descoberta surpreendente: os descendentes dos animais que sobreviveram ao acidente nuclear e foram deixados para trás na Zona de Exclusão sofreram alterações genéticas impressionantes. Os cães de Chernobyl não só sobreviveram aos altos níveis de radiação, como também desenvolveram características biológicas incomuns que chocaram os cientistas. Veja a seguir que descoberta foi essa e como vivem os cachorros de Chernobyl hoje em dia!
Cães de Chernobyl sobreviveram ao desastre e se adaptaram ao ambiente
Em 1986, após a explosão de um dos reatores da usina de Chernobyl, um dos maiores desastres nucleares do mundo, os moradores da cidade foram obrigados a deixar o local. Os cachorros e gatos dos habitantes, contudo, foram deixados para trás. Contrariando todas as expectativas, eles conseguiram sobreviver e se adaptar ao ambiente, mesmo diante aos níveis de radiação altíssimos e letais.
Deixados sozinhos, os cães formaram alguns grupos próximos aos reatores da usina e outros na própria cidade de Chernobyl, a cerca de 16 km de distância. Para sobreviver nesse local, os cães dependiam de restos de comida deixados por trabalhadores e cientistas que visitavam a região para estudos.
Percebendo que os cães de Chernobyl precisavam de ajuda, a Clean Futures Fund, organização fundada em 2016 para fornecer apoio a comunidades afetadas por catástrofes, decidiu fornecer suporte a esses animais. A equipe do projeto montou um hospital veterinário para realizar procedimentos como cirurgia de castração de cachorro, vacinas e microchipagem. Eles também fornecem cuidados médicos aos cães quando necessário.
Cientistas descobrem que a genética dos cães de Chernobyl foi afetada pela radiação
Isolados durante 15 gerações desde a catástrofe, os cães de Chernobyl viveram, se reproduziram e evoluíram ao longo dos anos. No entanto, pesquisas recentes revelaram uma descoberta surpreendente: esses cães não só conseguiram se adaptar ao ambiente, como passaram por mudanças genéticas que os ajudaram a lidar com os altos níveis de radiação.
O estudo publicado no Canine Medicine and Genetics identificou 52 genes ligados à exposição à radiação, em amostras colhidas em mais de 500 cães de Chernobyl. A pesquisa revelou que, além de conseguirem sobreviver às condições adversas, os animais desenvolveram mecanismos biológicos que favorecem o reparo celular, algo que é essencial para lidar com os níveis radioativos altos. De acordo com o principal autor do estudo, o Dr. Norman J. Kleiman, isso representa uma descoberta importante para compreender como a exposição contínua à radiação pode comprometer a saúde dos seres vivos, incluindo os humanos.
Outro fator que chamou a atenção dos cientistas é como esses cães conseguiram se organizar socialmente após serem deixados sozinhos em Chernobyl. De acordo com eles, os pets se reuniram em matilha de cães e convivem juntos em harmonia. No entanto, devido ao contato com cientistas e trabalhadores da região, eles são considerados semiselvagens.
Cães de Chernobyl estão sendo estudados desde 2017
Não é de hoje que os cães de Chernobyl são alvos de cientistas. Há alguns anos, eles estão sendo estudados e rastreados por pesquisadores, mas a cada dia que passa, novas descobertas são feitas. O estudo dos cães de Chernobyl começou em 2017, liderado pela Elaine Ostrander, geneticista que dirige o Projeto Genoma Canino, no Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano.
Em sua pesquisa, publicada na Science Advances, ela analisou a estrutura genética de 302 cães vira-lata que viviam em zonas próximas ao reator que explodiu em 1986. Nessa época, ela já havia descoberto que os cães que vivem próximo às usinas possuem uma genética diferente dos cachorros de regiões mais afastadas. O objetivo era entender se as mudanças genéticas nos cães ocorreram devido a radiação ou fatores externos, mas na época a cientista não conseguiu deixar isso claro. De qualquer forma, esse estudo foi muito importante para o desenvolvimento da pesquisa da nova pesquisa conduzida pelo Dr. Norman J. Kleiman.