Para quem não sabe, “março amarelo” é uma campanha que serve para conscientizar os gateiros sobre problemas renais em gatos. Como os felinos não têm o hábito de se hidratar regularmente, os rins ficam muito mais suscetíveis a várias doenças e, dependendo da gravidade do caso, pode acabar evoluindo para um quadro de insuficiência renal. Independentemente da situação, se você tem um gato com problema renal, é importante saber os cuidados que o animal demanda para oferecê-lo uma boa qualidade de vida.
Conversamos com a dra. Vanessa Zimbres, que é médica veterinária especialista em felinos, para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Então, se você deseja saber mais sobre as funções do rim de gato, como identificar um gato renal, principais cuidados que esses felinos exigem e melhores formas de prevenir esse tipo de problema, é só continuar a leitura!
Problema renal em gatos: por que isso é tão comum em felinos?
Segundo a especialista, a doença renal crônica é a mais comum nos felinos, e é algo que acontece principalmente por causa do envelhecimento do rim. Gato idoso, portanto, é o que tem mais chances de desenvolver o problema. “A estrutura renal dos gatos é diferente de outras espécies, pois eles têm menos células renais. Só que essas células têm uma capacidade funcional muito maior se comparado a outros animais. Mas, por ter uma quantidade menor de células, o problema é que qualquer lesão na estrutura dos rins já leva o paciente a ser considerado um gato renal crônico”, explica.
O que causa a doença renal em gatos?
Existem vários cenários diferentes que podem desencadear na doença renal em gatos, mas não se pode negar que um fator que contribui muito para isso é a baixa ingestão de água. A falta de hidratação adequada acaba sobrecarregando os rins, e podem prejudicar o seu funcionamento a longo prazo, especialmente se houver alguma lesão local. Como Vanessa destaca, algumas possíveis causas para um gato com problema renal são:
- Uso de medicação sem orientação médica (principalmente anti-inflamatórios)
- Queda ou aumento de pressão arterial
- Doenças genéticas
- Formação de cálculos na bexiga e nos rins
- Infecção bucal
“Temos que lembrar que os rins são como se fossem uma peneira que está filtrando todo o sangue, então tudo que tem que ser excretado e jogado fora precisa passar por esse órgão. Todos esses fatores junto ao fato de o gato tomar pouca água acabam fazendo com que esses rins sofram um pouco mais”.
É por isso que o uso de medicações de forma inapropriada - especialmente aquelas que precisam ser excretadas pelos rins - podem acabar levando a um quadro de intoxicação, que vai deixar sequelas no órgão. A formação de cálculos renais em gatos também é uma preocupação, porque acaba lesionando a região onde o cálculo está, machucando as células renais e abrindo portas para algo mais grave no gato. Problema renal também pode ser derivado de alguma doença genética, e, nesse caso, não tem muito para onde correr: “Gatos Persas, Exóticos e braquicefálicos são predispostos a esse problema, que é dominante. Então, uma vez que um pai é portador, no mínimo 75% até 100% dos filhotes vão nascer com o gene da doença do rim policístico”.
Como identificar um gato com problema renal?
O diagnóstico precoce é sempre a melhor forma de lidar com um gato renal, até mesmo porque os sintomas de problemas nos rins muitas vezes só aparecem quando o órgão já está comprometido. É o que explica Vanessa: “Quando o gato manifesta sinal clínico, sintoma de que o rim não está trabalhando direito, esse rim provavelmente já perdeu, no mínimo, 90% da sua capacidade funcional”. Os sintomas de insuficiência renal em gatos que podem ser observados nesses casos são:
- Vômitos
- Gato bebendo muita água
- Urina com coloração mais clara
- Mudança de apetite
“É extremamente importante que a identificação de um problema renal seja feita de forma precoce. É por isso que tem a campanha anual do março amarelo para conscientizar que temos que investigar a doença renal crônica antes que o gato fique doente e manifeste sintomas, mostrando que o rim não trabalha mais. Também é necessário salientar que a célula renal que morreu não se regenera, então a doença sempre vai evoluir. A gente não consegue recuperar uma célula que já necrosou”.
Mas como é feita a avaliação das condições renais do gato? Problema renal pode ser identificado por meio de vários exames laboratoriais, como ultrassom, exames de sangue e de urina. “O exame de sangue é importante, mas é diagnóstico tardio. Quando a ureia e creatinina, que é o que é mais comumente pedido pra avaliação renal, sofrem alteração isso me mostra que o rim já perdeu 75% da sua capacidade de funcionamento. Já o exame de urina me dá um diagnóstico precoce com lesão a partir de 60%. Mas de longe o ultrassom é o mais indicado, porque identifica a estrutura renal, mede o tamanho dos rins e analisa se há formação de cisto ou de cálculo renal”.
Em que momento uma doença pode evoluir para um quadro de insuficiência renal em gatos?
Ter um gato com insuficiência renal é algo bem preocupante porque significa que a situação é irreversível. Conforme a médica veterinária destaca, a doença renal crônica - também chamada de nefropatia em gatos - evolui quando há uma lesão maior que 90% das células renais. Sendo assim, esse rim perde a capacidade de excretar as toxinas do organismo de forma adequada e não consegue mais controlar todos os sais do organismo, como fósforo e potássio.
“O gato vai estar sempre desidratado e vira uma bola de neve. Quando se estabelece a insuficiência renal em gatos, não dá para reverter. Até porque por causa do peso e volume de sangue circulante, a gente não consegue fazer a hemodiálise em gatos. As diálises que são possíveis de serem feitas são bem complicadas porque é preciso fazer uma lavagem peritoneal e esses procedimentos acabam tirando a qualidade de vida do animal."
Quais são os sintomas de fase terminal de insuficiência renal em gatos?
Conforme vai evoluindo o quadro de insuficiência renal em gatos, fase terminal inevitavelmente se aproxima. Mas como saber que isso está acontecendo? A verdade é que, além dos clássicos sintomas de insuficiência renal em gatos, existem algumas formas de identificar essa última fase da doença. “Tem a ureia alta no sangue, como também pode formar úlceras na mucosa oral (boca, esôfago e estômago). Essas úlceras levam a sangramento gástrico, então o gato renal não come porque não consegue se alimentar. Ele começa a ter diarreia, então perde ainda mais água. Ele faz muito xixi, mas não excreta as toxinas porque o rim não funciona direito, então ele desidrata”.
Por isso, todo cuidado é pouco e a observação do tutor deve ser dobrada para buscar ajuda o quanto antes. “Um gato já em fase terminal vai chegar na clínica já em decúbito, deitado de lado. É aquele que a gente não consegue reverter o quadro de desidratação do gato. Por isso a importância do diagnóstico precoce para tratar enquanto esse gato é um renal crônico e a gente ajudar esse rim a trabalhar para não chegar num quadro de insuficiência”.
Como cuidar de um gato renal?
Quando existe qualquer tipo de doença nos rins, é importante se atentar com alguns cuidados com gatos renais crônicos. Uma dieta adequada é o primeiro passo, sendo que a ração úmida é uma das maiores aliadas da saúde felina nesse momento. “Tem uma lenda de que o alimento úmido para gatos não é o ideal, porque é rico em sódio. Muito pelo contrário: o ideal seria que o gato comesse somente a alimentação úmida, uma vez que o rim que não trabalha direito perde muita água e é preciso repor essa água. Como o gato é um animal de origem desértica, ele não tinha essa disponibilidade de água antigamente. Então ele se hidrata principalmente através da alimentação”.
Além disso, depois do diagnóstico de um gato renal, não basta apenas mudar a dieta do animal por uma ração renal. Segundo Vanessa, a avaliação médica é fundamental nessas horas para verificar se existe alguma restrição de proteína, se a doença renal crônica evoluiu para um quadro de hipertensão e se existe alguma outra limitação que interfira diretamente na alimentação felina. Além do mais, o acompanhamento com um especialista é o que mais conta: “É importante fazer o acompanhamento para ver se esse gato não vai desenvolver um quadro de anemia ou desidratação e aumentar ainda mais a ureia no sangue, podendo provocar quadros de náusea, vômito e diarreia. O paciente renal precisa ser acompanhado a cada três ou a cada seis meses, dependendo do estágio da doença renal crônica.”
Existe tratamento para gatos com problemas renais?
Todo o tratamento de doença renal em gatos vai depender da análise feita pelo veterinário, pois muitas vezes isso é feito com base nos sinais clínicos do paciente e no resultado dos exames. É esse resultado que vai ajudar a identificar os locais que precisam de “ajuda” e tratamento para manter os rins trabalhando. “Não é somente trocar a ração, mas buscar entender onde há deficiências. É o rim que controla todo o equilíbrio dos sais no organismo, então pode ser necessário aplicação de hormônio, suplemento com vitamina, restrição de eletrólitos e até mesmo o uso de fluidoterapia em gatos caso ele não esteja conseguindo manter a hidratação”.
Também é importante ter em mente que como essa é uma doença evolutiva, sempre acaba sendo necessário acrescentar alguma coisa no tratamento. Então a lista de remédio para gato com problema renal acaba aumentando, pois o animal precisa ser tratado pelo resto da vida.
Para quem procura um remédio caseiro para gato com problema renal, saiba que nenhum tipo de automedicação é recomendado se não houver nenhum tipo de orientação médica. Às vezes na tentativa de ajudar, isso acaba piorando o estado de saúde do animal. Por isso, os tratamentos de suporte que podem ser feitos é manter a hidratação do animal e oferecer uma alimentação de boa qualidade.
Saiba como prevenir a doença renal em gatos
Já deu para perceber que quando se trata da saúde do gato, problema renal é uma preocupação e tanto, né? Mas, felizmente, algumas medidas preventivas podem ser implementadas para evitar que o seu gatinho sofra com esse tipo de doença. Uma dica da dra. Vanessa é acostumar o gato desde filhote a se alimentar com ração úmida, e se possível até misturar mais água na comida para fazer com que esse gatinho consuma ainda mais líquido. “Quanto mais água, quanto mais hidratado o gato estiver, melhor vai ser o funcionamento desses rins, sem sobrecarregar”.
Outro ponto é evitar qualquer medicação que seja potencialmente tóxica para o rim de gato, e só fazer uso de medicamentos com prescrição veterinária. Não esquecer de fazer avaliação pré-cirúrgica e ter muito cuidado com procedimentos anestésicos. Além disso, quem tem plantas em casa precisa ter um cuidado especial com plantas venenosas para gatos. “O gato não precisa ingerir o lírio, a flor, o pólen. Basta o fato de passar perto, de inalar o pólen e cheirar o lírio que já é o suficiente pra levar a um quadro de intoxicação”.
Como o diagnóstico precoce é muito importante, outra sugestão é começar a examinar o funcionamento dos rins a partir dos sete anos de idade, e fazer isso periodicamente. “Tratando desde o início, pode ser que esse animal nunca chegue a um grau de insuficiência renal em gatos”.
Por fim, mas não menos importante, incentive a hidratação do gato! Claro que utilizar a ração úmida ajuda bastante nesse aspecto, mas se por algum motivo você não puder fazer isso, existem várias estratégias que podem fazer o gato beber mais água. Uma coisa que funciona bastante é espalhar vários potinhos de água pela casa e trocar o líquido regularmente. Investir em fontes de água para gatos também é uma ótima ideia, pois os felinos têm uma preferência maior por água corrente e fresca.
Redação: Juliana Melo