A domesticação dos cães aconteceu há cerca de 30.000 anos e, desde então, a relação entre cachorros e humanos foi passando por diversas mudanças. Fatores como urbanização, estilo de vida, alimentação e muitos outros acabaram interferindo na interação dessa dupla poderosa - e isso continua acontecendo! Cientistas da Universidade de Linköping, na Suécia, afirmam que estamos vivendo uma 3ª onda de domesticação dos cães. Nessa nova fase da evolução, algumas características do comportamento canino estão se sobressaindo como adaptação para o estilo de vida dos humanos.
Pesquisa revela detalhe curioso sobre comportamento canino nos dias atuais
O hormônio ocitocina é conhecido por seu papel fundamental nas relações sociais entre indivíduos. Estudos revelam que a capacidade de comunicação dos cachorros pode ser influenciada pelos genes da sensibilidade à ocitocina. Em outras palavras, é esse hormônio quem faz com que o cão busque pelo contato humano. O que os pesquisadores da Universidade de Linköping descobriram é que os cachorros hoje em dia apresentam uma maior sensibilidade ao hormônio ocitocina à medida que se tornam mais adeptos ao convívio com humanos. Na prática, isso quer dizer que os pets estão buscando mais contato e pedindo mais ajuda para seus tutores, principalmente os cães de serviço.
Durante a pesquisa, 60 animais da raça Golden Retriever foram observados enquanto tentavam levantar um pote de comida que estava fechado de forma impossível de abrir. Os cientistas coletaram o DNA do nariz dos cachorros para entender qual variante do receptor de ocitocina cada um deles possuía. Na primeira fase do teste, foi borrifada uma dose de spray nasal de ocitocina. Em seguida, foi aplicado um spray de solução salina neutra.
A partir disso, os pesquisadores analisaram quanto tempo os cachorros levaram para pedir ajuda a um humano. Aqueles que apresentaram uma variante específica do receptor de ocitocina tiveram uma reação mais intensa ao spray com esse hormônio. Como resultado, eles se tornaram mais propensos a pedir ajuda em um espaço menor de tempo quando comparado aos outros.
Saem os cães trabalhadores, entram os companheiros
O que esse estudo revela na prática? A resposta vem dos especialistas caninos Brian Hare, professor de antropologia evolutiva na Duke University, e Vanessa Woods, gerente do programa Puppy Kindergarten que treina filhotes para se tornarem cães de serviço. Segundo eles, a pesquisa mostra que a domesticação chegou a um ponto que está alterando os genes relacionados à comunicação e socialização dos cães.
Antes, os cães trabalhadores eram maioria. Eles tinham o objetivo de caçar pragas, pastorear e até proteger a família. Agora, os cães trabalhadores estão dando espaço aos cães de companhia. Isso acontece porque os pets não representam mais um papel de ajudante para os humanos, que estão prezando cada vez mais por animais que atuem como seus amigos e companheiros. Agora, são os cachorros que estão pedindo mais ajuda, resultando no que os especialistas resumem como a nova fase da domesticação canina.
Cães estão se adaptando aos humanos do século XXI
As mudanças no comportamento canino podem ser vistas em qualquer cachorro, mas são mais perceptíveis nos cães de serviço. Os especialistas Woods e Hare afirmam que atualmente eles estão extremamente adaptados para a vida no século XXI. Os cães treinados começam a incorporar características buscadas pelos humanos em um companheiro de quatro patas.
Não há mais a necessidade de um animal que ofereça proteção e caça presas. Na verdade, as pessoas buscam um amigo que esteja ao seu lado ao longo do dia e se encaixe na sua rotina pessoal, seja morando sozinho, em família, com um trabalho corrido ou em um centro urbano. Os cães de serviço ainda ajudam os donos nas tarefas, mas conseguem se manter mais calmos quando não estão "na ativa", além de investirem mais nos comportamentos amigáveis. Eles possuem uma maior facilidade de se encaixar na vida dos humanos de acordo com as necessidades deles.
Pessoas buscam cães mais simpáticos e adeptos do estilo de vida urbano
Com a urbanização, as pessoas estão vivendo cada vez mais em centros repletos de apartamentos e com menos áreas ao ar livre. Além disso, com o aumento do home office, muita gente está passando a maior parte do tempo em casa junto de seus pets. Assim, os cachorros estão se adaptando a esse estilo de vida. Se antigamente ter um cão protetor que te defendia de desconhecidos era visto como algo positivo, hoje está se tornando mais problemático. Afinal, pessoas e animais nos centros urbanos inevitavelmente acabam interagindo muito mais com estranhos.
É por isso que, segundo os especialistas, os cachorros mais enérgicos e agitados estão tendo cada vez mais dificuldade para achar um lar. As pessoas têm preferido aqueles cães que são simpáticos, socializam bem, apresentam um temperamento calmo e vivem sem problemas em um espaço menor. Como os cães de serviço conseguem se adaptar melhor a esse estilo de vida, estão "saindo na frente" na nova fase de evolução dos cachorros.