Quando se trata da saúde do gato, todo cuidado é pouco. Assim como acontece com os humanos, os felinos também são vulneráveis a vários problemas bem desagradáveis, como a epilepsia. O distúrbio afeta o sistema nervoso central e gera consequências como a convulsão em gatos. A situação pode assustar bastante os tutores, por isso é importante conhecer cada detalhe da doença. Para esclarecer as principais dúvidas sobre a epilepsia em gatos (sintomas, causas e tratamento), o Patas da Casa entrevistou a médica veterinária Francine Kirsch, que é especializada em atendimento de felinos. Veja só o que ela contou!
O que é e como acontece a epilepsia em gatos?
Francine Kirsch: Em primeiro lugar, precisamos diferenciar a epilepsia da convulsão em gatos. A epilepsia não é uma doença específica, mas uma condição crônica caracterizada por crises convulsivas recorrentes, causada por uma anormalidade no cérebro do animal. Um gato com uma única crise convulsiva não tem epilepsia, pois as crises não são recorrentes. Se as crises epilépticas ocorrerem devido a um problema em outra parte do corpo, como um baixo nível de açúcar no sangue que vai privar as células cerebrais de combustível essencial, isso não é epilepsia.
O que deixa um gato epiléptico?
F.K: As causas das crises epilépticas podem ser encontradas dentro do cérebro (causas intracranianas) ou fora do cérebro (causas extracranianas). Intoxicações por venenos e doenças metabólicas representam as principais causas extracranianas. Nesses casos, o cérebro está perfeitamente saudável, mas reage por convulsão a uma toxina ingerida ou aplicada ao animal, uma alteração na composição do sangue causada por um problema metabólico (por exemplo, doença renal ou hepática, baixo nível de cálcio ou baixo nível de açúcar), hipertensão, hipertermia ou ritmo cardíaco anormal. Em relação às causas tóxicas, convulsões recorrentes não são esperadas, a menos que o gato seja exposto novamente à toxina, ou seja, nesse caso não podemos chamar de epilepsia.
As causas intracranianas são divididas em epilepsia primária e secundária. Na epilepsia primária (também conhecida como epilepsia idiopática), não há doença no cérebro, as crises epilépticas são causadas por um problema funcional como desequilíbrio químico entre mensageiros excitatórios e inibitórios do cérebro. Gatos com epilepsia primária tendem a ter sua primeira convulsão na idade adulta jovem. Embora a verdadeira incidência de epilepsia primária em gatos seja desconhecida, foi sugerido que entre 21 e 59% dos gatos com convulsões são epilépticos primários. No caso da epilepsia secundária, as crises epilépticas são um sinal de uma doença estrutural no cérebro, como um tumor cerebral, inflamação ou infecção (encefalite), má formação cerebral, acidente vascular cerebral recente ou um traumatismo craniano anterior.
O que fazer para ajudar um gato com convulsão?
F.K: As crises epilépticas podem ocorrer isoladamente ou estarem associadas a outros sintomas, como caminhar em círculos, instabilidade no comportamento, inquietação, sonolência ou cegueira.
Embora uma convulsão seja uma experiência assustadora para qualquer tutor, é importante tentar manter a calma e não interferir. Certifique-se de que o gato não corre o risco de se ferir, por exemplo, ao cair de escadas ou dos móveis. Quando uma convulsão iniciar, anote a hora e conte quanto tempo ela dura. A maioria das convulsões cessa espontaneamente dentro de 1 a 3 minutos, embora possa levar alguns minutos a algumas horas para que o gato se recupere completamente. Se uma convulsão durar por um período muito longo de tempo (mais de cinco minutos para a convulsão real), ou for seguida por outras convulsões juntas, o atendimento veterinário deve ser procurado imediatamente.
Como é feito o diagnóstico da epilepsia em gatos?
F.K: O diagnóstico de epilepsia primária é, infelizmente, um diagnóstico de exclusão após eliminação de outros problemas. Não existe um teste diagnóstico definitivo para a condição - e todas as investigações, como exames de sangue, ressonância magnética ou tomografia computadorizada do cérebro, estarão normais.
O diagnóstico de epilepsia secundária é baseado na pesquisa de doenças cerebrais com a ressonância magnética ou tomografia computadorizada do cérebro e análise do líquor (líquido presente no cérebro) com uma punção lombar. Já o diagnóstico de uma causa extracraniana de ataques epilépticos é baseado em uma exposição conhecida a uma toxina pelo tutor e exames de sangue. A avaliação da pressão arterial também deve ser considerada em gatos mais velhos, já que a hipertensão é uma causa comum de convulsões de início tardio.
É possível tratar a epilepsia em gatos?
F.K: O tratamento das crises epilépticas deve se concentrar principalmente na causa subjacente, se ela puder ser identificada. O tratamento da epilepsia primária consiste no uso de medicações antiepilépticas por um longo prazo (geralmente por toda a vida).
A decisão de iniciar o tratamento antiepiléptico ainda é motivo de controvérsia. Gatos com uma única convulsão ou convulsões isoladas separadas por longos períodos de tempo não requerem tratamento. O tratamento antiepiléptico de manutenção é recomendado em qualquer uma das seguintes circunstâncias:
- Quando um gato está tendo mais de uma convulsão por mês ou apresenta estado de mal estar após as crises;
- Quando as convulsões ocorrem secundariamente a uma doença estrutural do cérebro ou após um traumatismo cranioencefálico;
- Quando as convulsões aumentam de frequência ou gravidade.
Redação: Juliana Melo