Seja um gato surdo, cego, sem uma das patas ou paraplégico, o destino de pets com deficiência quase sempre é o mesmo: passar anos a fio (e às vezes a vida inteira) na fila de adoção. No reino animal, não é incomum filhotes nascerem com deformidades ou sem os sentidos da visão e audição. Existem também as deficiências adquiridas ao longo da vida, sejam decorrentes de doenças ou devido a traumas — esse último, muito comum entre os animais que nasceram e cresceram na rua.
A rejeição de pets com deficiência é repetidamente reafirmada por falta de informação e preconceito. O que poucos sabem é que os gatos são uma das espécies com maior facilidade de adaptação que existem. Mesmo sem mobilidade ou com a falta de algum sentido, eles conseguem encontrar um jeito de se virar em qualquer situação. Ou seja, um gato com deficiência pode ter uma vida completamente "normal".
A adoção de um gato ou cachorro com deficiência é um gesto de coragem e amor, mas também uma forma de quebrar o ciclo dos estigmas que rondam esses animais. A adoção de gato com deficiência não é um bicho de sete cabeças e começa por abrir o coração para encontrar na diversidade um grande amigo para a vida.
Adotar gato: conheça a história do Juliano
Quem é apaixonado por gatinhos sabe como é impossível resistir aos olhos cheios de esperança de um peludo abandonado! E foi exatamente assim que Yasmin Bazaan se rendeu aos encantos do Juliano, um gatinho de quatro anos que passou por uma experiência difícil.
Yasmin mora em Tatuapé, em São Paulo, com seu marido, seu bebê, um cachorro e mais três bichanos. Ela conta que não planejava adotar outro gato, mas durante uma consulta de rotina dos seus pets no veterinário, Yasmin foi apresentada ao Juliano e se apaixonou na mesma hora. O felino perdeu uma patinha após ser atacado por um cachorro enquanto dava uma voltinha na rua. Com o apoio do marido, que também se encantou com sua fofura, Juliano ganhou um novo lar com amor e carinho de sobra, e sua adaptação foi bem tranquila.
Mesmo sem uma das patas, o gatinho Juliano se adaptou super bem
O Juliano não teve nenhuma dificuldade para se adaptar em sua nova casa, pois além de super independente, sua deficiência não o impede de ter uma vida igual a qualquer outro gatinho.
“Ele perdeu a patinha de trás e não tem nenhum tipo de dificuldade com nada, ele anda por tudo, sobe nas coisas. A única dificuldade é que ele sobe se agarrando, ele não dá os pulos. Mas eu tenho escada no meu apartamento e ele sobe escada, desce escada, ele é bem terrível, faz tudo sozinho, não precisa de ajuda pra nada”, revela. Para Yasmin, essa capacidade de adaptação está no DNA dos felinos: “Os animais são assim, eles se adaptam muito bem a situações, encaram aquele problema e seguem a vida.”
A adoção de animais com deficiência é um ato de amor!
A Yasmin, por outro lado, ganhou um companheiro para a vida. Super amado e querido por todos que o conhecem, Juliano não cansa de dar muito amor à família que o adotou — considerado até um gato carente.
“Eu acho que como ele nunca teve um dono fixo, Juliano nunca teve carinho, um lar e afeto. Quando chegou, ele dormia junto com a gente, no meu pescoço, e não desgrudava mesmo. Ele se deu super bem com meus outros gatos e com minha cachorra, não é assustado”, conta.
Juliano é conhecido ainda pelo carisma: “As pessoas amam muito, ele é a sensação da casa! Todo mundo vem aqui pra vê-lo e ele sempre foi muito querido. É apaixonante!”
Abrigos e protetores têm o desafio de encontrar um lar para pets com deficiência
Aline Ferreira faz parte da Ong Gatópoles, uma organização de adoção responsável que encaminha felinos resgatados para famílias interessadas em adotar gato. Para que isso seja possível, o adotante precisa seguir alguns critérios para garantir que o animal tenha uma boa qualidade de vida. Dentre eles, é preciso ter condições financeiras para arcar com os custos de ter um gatinho, como alimentação, vacinação e segurança.
Além disso, há também um voluntário responsável que visita a casa dos possíveis adotantes para determinar se o ambiente é seguro ou não para receber o animal. Falando em segurança, se a pessoa morar em apartamento, outro critério é ter tela de proteção para gatos. Já se morar em casa, o gatinho não pode ter acesso à rua de jeito nenhum e o tutor deverá zelar pela segurança do animal.
A Gatópoles, segundo Aline, preza pela qualidade da adoção, e não pela quantidade. Por isso, as vistorias são realizadas antes da entrega do gatinho para garantir a segurança do animal e evitar que ele seja devolvido ou abandonado. Caso o adotante não se encaixe no perfil, o bichano volta para o abrigo.
No caso de animais com deficiência, a Aline diz que não há distinção no processo de adoção, porque eles são criteriosos com todos os gatinhos do abrigo, mas afirma que bichanos com limitações são muito mais difíceis de serem adotados.
“A adoção é muito difícil! Eu não lembro quantas vezes a gente conseguiu doar gatinhos com deficiência, acho que umas 2 ou 3 vezes. Teve o caso de uma gatinha com deficiência que foi doada e não conseguia fazer xixi direitinho. Ela foi devolvida um ano depois e acabou ficando com a gente até o finalzinho da vida. Então são adoções bem complicadas, a maioria deles ficam com a gente.”
O estigma das deficiências também acompanha os pets
Infelizmente, a falta de informação e preconceito com animais com deficiência dificulta ainda mais a adoção desses pets, que acabam passando o resto de suas vidas nos abrigos. Para facilitar o processo, a Aline disse que o abrigo oferece todo suporte no pós adoção e segue acompanhando o animal para amparar a família e garantir que o bichano consiga seguir o tratamento.
Hoje, a Gatópoles abriga alguns gatinhos especiais, como o Wolverine, que é cego e a Tuca, que tem problema nas patas traseiras e na bexiga e, por isso, precisa de ajuda para fazer suas necessidades. Tem ainda o Gustavo, um gatinho com problema no intestino que se alimenta de sachê para gatos. Como esses animais necessitam de maior atenção que os demais, eles ficam em lares temporários para receberem todos os cuidados específicos para sua limitação.
É bom deixar claro que adotar um gato ou cachorro com deficiência não é uma missão impossível. Claro que pode ser que você precise fazer algumas adaptações para garantir a segurança e o bem-estar do seu novo amiguinho, mas pets com deficiência podem ser muito felizes.
Cada bichinho é único e, dependendo da deficiência do pet, pode ser necessário cuidados mais específicos, mas com amor e dedicação, é possível garantir uma vida feliz e saudável para esses pets mais do que especiais.
Adote um gato com deficiência: veja como se preparar!
Adotar um gatinho com necessidades especiais é muito mais do que dar um lar para ele, é abrir o coração para uma experiência transformadora e cheia de ensinamentos. Por isso, abra seu coração e adote um gato com deficiência, o Patas da Casa vai te mostrar como se preparar para a chegada do seu amigo de 4 patas, de acordo com sua limitação.
- Gato cego: adotar um bichano que não enxerga requer algumas adaptações no ambiente, principalmente porque o animal não está acostumado com a disposição da casa nova. Por isso, evite deixar móveis no meio do caminho, controle o acesso de janelas e escadas e opte por tapetes antiderrapantes. Como se trata de um novo local, é fundamental que a casa seja apresentada de forma gradual para o bichano, para que aos poucos ele conheça cada cantinho do seu novo lar.
- Gato surdo: o mais importante nesse caso é saber como se comunicar com um gato surdo. Normalmente, esses bichanos são muito observadores, então uma forma de manter uma relação com eles é a partir de gestos e expressões faciais. Em alguns casos, adestrar gato pode ajudar a melhorar a comunicação com o seu pet.
- Gato com deficiências motoras: um gato amputado ou paraplégico pode precisar de adaptações mais complexas, mas nada impossível. Em alguns casos, como o do Juliano, pouquíssimas adaptações são necessárias. Dependendo da deficiência motora do seu bichano, ele pode precisar de ajuda para usar a caixa de areia, por exemplo. Outro cuidado importante é manter o espaço com o mínimo de obstáculos possíveis. Se for recomendada por um médico veterinário, investir em uma cadeira de rodas para gatos pode ajudar a garantir uma vida mais ativa para o seu bichano.