A hipoplasia cerebelar em cães é uma doença pouco conhecida, caracterizada por afetar os movimentos dos filhotes já nos primeiros dias de vida, o que dificulta a realização de atividades comuns, como andar e até mamar. Geralmente, muitos não sobrevivem à ela e a eutanásia é a única solução. Já aquele animal com chances de sobrevivência, precisa de suporte por toda a vida, pois ela não tem cura. Para entender mais, conversamos com uma veterinária e neurologista que explicou o que é hipoplasia no cerebelo do cachorro e mais informações sobre a doença. Confira!
A hipoplasia cerebelar em cães é uma doença que afeta filhotes
Para entender o que é a hipoplasia cerebelar em gatos e cachorros, primeiro é interessante saber o que é hipoplasia e qual a função do cerebelo. Para isso, convidamos a veterinária e neurologista Dra. Magda Medeiros, que conversou com o Patas da Casa e trouxe esclarecimentos sobre esse assunto: “A hipoplasia cerebelar é uma condição na qual partes do cerebelo não se desenvolveram completamente durante o período gestacional”, define.
A maioria dos tutores não sabe, mas o papel do cerebelo nas atividades motoras é muito importante: “O cerebelo compõe uma grande parte do encéfalo, encontrando-se na parte de trás, acima e atrás do tronco cerebral, e é responsável pelo controle do movimento fino, da postura e da coordenação motora”, mostra.
Mas por que ocorre somente em filhotes de cachorro? Ela responde que isso está ligado à formação do cerebelo e que na hipoplasia cerebelar cães, causas podem ser genéticas ou externas: “O processo de desenvolvimento do cerebelo se dá durante a gestação e nas primeiras semanas após o nascimento. Assim, na hipoplasia cerebelar, algum defeito genético (causa intrínseca) ou causas extrínsecas (como infecções, toxinas ou deficiências nutricionais na cadela durante a prenhez) alteram o desenvolvimento do cerebelo”.
Sintomas de hipoplasia cerebelar: cães filhotes têm dificuldades para se mover
De acordo com a Dra. Magda Medeiros, os principais sintomas da hipoplasia cerebelar são:
- Tremores de intenção, que parecem balançar ou sacudir a cabeça e ocorrem quando o cão está tentando se concentrar em um objeto, como uma tigela de comida;
- Desordem e instabilidade;
- Base ampla (patas mais afastadas que o normal);
- Aparência de passos altos ou "empolgados" ao caminhar (pode andar como um soldadinho de chumbo);
- Cair com frequência e calcular mal as distâncias;
- Tremores de membros;
- Tremor de cabeça.
Mesmo visíveis, ela diz que esses sinais muitas vezes são vistos erroneamente como algo comportamental: “Filhotes com hipoplasia cerebelar podem parecer excessivamente desajeitados e tontos, o que pode parecer muito fofo e pode levar alguns a pensar que é uma parte normal do desenvolvimento do filhote - mas não é. Os sinais tendem a se tornar aparentes uma vez que o filhote está andando e explorando. É uma condição neonatal que vai ser percebida nas primeiras semanas de vida”, conta.
Foi o que aconteceu lá fora, conforme reportagem do The Dodo: em 2017, uma família que acolheu um cão com hipoplasia cerebelar na Califórnia demorou mais de um mês para descobrir que havia algo de errado e que o pequeno Petey realmente tinha dificuldades para andar.
Testes de exclusão ajudam a diagnosticar a hipoplasia cerebelar no cachorro
Segundo a veterinária, para detectar a hipoplasia do vermis cerebelar, o cachorro faz uma bateria de exames e o seu diagnóstico é por exclusão. Isso acontece pois os sintomas se assemelham a outros males: “A hipoplasia cerebelar pode ser confundida com outras patologias neonatais, como a epilepsia. Os sintomas de doenças infecciosas (que provocam meningoencefalites, como a cinomose), também podem provocar incoordenação e dificuldade de movimento. Daí a necessidade de excluir outras patologias quando se faz o diagnóstico da hipoplasia cerebelar”.
E por ser uma doença genética, a neurologista pontua que os pais do filhote também merecem ser investigados: “O diagnóstico é feito através do histórico e dos sinais do animal. Informações sobre os pais e sobre a gravidez da mãe podem ser úteis. Normalmente, além do exame físico e neurológico, o veterinário pedirá exames de sangue, urina e ressonância magnética para confirmar a hipoplasia cerebelar”.
Na hipoplasia cerebelar em cães, tratamento visa conforto
A hipoplasia é grave e afeta toda a qualidade de vida do animal. Dependendo do nível da doença, muitos profissionais até recomendam a eutanásia. “Infelizmente, a hipoplasia cerebelar não pode ser curada e não há opções de tratamento específicas”, diz a veterinária.
A boa notícia, no entanto, é que essa não é uma doença progressiva. Porém, eles vão precisar de apoio e cuidados específicos por toda a vida: “O cão terá algumas deficiências de desenvolvimento, portanto poderá não ser capaz de tomar decisões para se proteger como os outros. Você terá que restringir a atividade e o movimento do seu cão para evitar ferimentos e acidentes de trânsito. Escalada, queda ou liberdade de movimento no parque, todas as coisas normais que os cães fazem, precisam ser controladas. Alguns cães precisam usar cadeiras de rodas para andar.”
Mas mesmo sendo um cachorro paraplégico, ainda é possível viver com a doença: "A hipoplasia cerebelar em cães pode variar de leve a grave, mas a maioria têm dificuldade para andar, correr e comer. Esses cães não têm problemas para entender o mundo ao seu redor, mas não conseguem controlar seus movimentos da mesma forma que os cães típicos”, mostra.
A hipoplasia cerebelar canina é mais comum em raças grandes
Raças de grande porte, como o Setter Irlandês e o Husky Siberiano são os mais afetados por essa enfermidade. Mas outras raças menores, como o Fox Terrier, também são atingidas.
A Dra. Magda Medeiros explicou a motivação genética por trás da doença: “Existem raças com maior predisposição, como o Chow Chow, Bull Terriers, Cocker Spaniel, Terriers de Boston, Grand Dane e Airedales. Estas raças provavelmente têm maior ocorrência da mutação genética no gene VLDLR (chr1) que causa hipoplasia cerebelar. Esta doença é herdada de forma autossômica recessiva, o que significa que os cães afetados devem ter duas cópias da mutação para mostrar sinais clínicos” detalha.
É possível prevenir a hipoplasia cerebral em cães?
Em todo caso, a hipoplasia cerebelar se desenvolve durante a gestação, seja por motivos genéticos ou externos. Mesmo assim, a veterinária aponta que é possível prever a doença quando há planejamento reprodutivo e cadela com as vacinas em dia: “Devemos ficar atentos para evitar o cruzamento de cães com histórico familiar de hipoplasia, além de manter a cadela vacinada para evitar infecções, como o parvovirose, por exemplo, que pode provocar essas alterações congênitas”. Ou seja, por isso é sempre bom optar pela adoção animal em canis responsáveis e certificados que planejam um cruzamento saudável e sim, tem problema atrasar a vacina do cachorro.
Redação: Erika Martins
Edição: Mariana Fernandes