O gato obeso pode ser incrivelmente fofo e apertável, mas isso não quer dizer que ele não precisa de cuidados e atenção com a saúde. A verdade é que a obesidade felina - que muitas vezes não é perceptível para os tutores - acaba abrindo portas para uma série de problemas mais sérios. Por isso, saber identificar quando o animal está acima do peso é importante para buscar orientação profissional e ajudar o gato obeso a perder peso.
A obesidade em gatos pode acontecer por diferentes motivos, mas normalmente está associada com a alimentação que os pets recebem em casa e a falta de exercícios físicos. Se você quer saber quais as consequências desta condição e os cuidados que podem ajudar o animal a perder peso, é só conferir a entrevista abaixo. Conversamos com a Vanessa Zimbres, que é médica veterinária especializada em felinos!
Patas da Casa: O que é um gato obeso e como identificar o problema?
Vanessa Zimbres: A obesidade é definida como uma doença crônica onde há excesso de peso causado pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, resultando em um aumento de 20% ou mais do peso ideal de um indivíduo.
Atualmente, entre 20 a 40% dos animais de estimação estão com sobrepeso ou obesos. O diagnóstico da obesidade não pode ser baseado em um achado físico subjetivo, pois o que é considerado um gato obeso para o clínico, pode não ser óbvio para o tutor.
O diagnóstico deve ser baseado em um score de condição corporal, comparando a estrutura física do gato com uma tabela de imagens, que pode ser de 1 a 9 pontos ou de 1 a 5 pontos, dependendo do esquema utilizado. Combinado a isso, é avaliado o score de condição muscular, também baseado em figuras.
De forma prática, primeiramente, temos que determinar o peso ideal do indivíduo para verificar se ele está acima do peso ou não. Um gato de pelo curto e tamanho médio, como a maioria dos gatos sem raça definida, deve ter entre 4,5 a 5 kg. As tabelas de score corporal utilizadas informam a porcentagem média do excesso de peso e conforme elas, é calculado o peso ideal do indivíduo.
PDC: O que pode causar obesidade em gatos?
V.Z: Não existe segredo em se determinar a causa da obesidade felina. O acúmulo de tecido adiposo é um estado de balanço calórico positivo, portanto, ocorre quando a ingestão de energia excede o gasto energético.
Existem importantes fatores genéticos, metabólicos e endócrinos envolvidos na propensão ao ganho de peso do animal, mas não são, nem de longe, causas comuns. Infelizmente, uma vez que a maior causa da obesidade é o excesso de alimentação, o maior responsável pelo desenvolvimento da doença nos pets é a criação / alimentação incorreta, ou seja: nós mesmos (tutores).
PDC: Quais são as consequências da obesidade felina na saúde dos pets?
V.Z.: Em humanos, é bem reconhecida a relação da obesidade com diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, entre outros, mas em gatos obesos o que está bem definida é a ligação da obesidade com a resistência insulínica, portanto, diabetes em gatos.
Além disso, o gato obeso sofre precocemente de doenças articulares, doença do trato urinário inferior, constipação, dermatites, entre outras condições, portanto, é melhor pensar na obesidade felina como uma síndrome que pode afetar diversos outros aspectos da saúde do animal.
PDC: O gato obeso tem mais chances de desenvolver doenças? Por que?
V.Z: Conforme citado acima, um gato obeso sofre precocemente de quadros de osteoartrite diante da sobrecarga de peso em suas articulações. Frente a isso, são animais que sentem dor e são mais relutantes ao movimento. Isso faz com que usem a caixa de areia para gatos com uma frequência menor que o ideal, retendo a urina por um tempo maior e predispondo a doenças do trato urinário inferior, como as urolitíases e cistites idiopáticas. Além disso, podem reter as fezes por mais tempo, levando a quadros de constipação / fecalomas.
Esses indivíduos também apresentam menor mobilidade, o que dificulta a sua própria higienização, levando ao acúmulo de caspas e dermatites perianal/perivulvar. Sem contar o prejuízo a diversos órgãos, onde o acúmulo de gordura prejudica a função por compressão ou mesmo ocupando o lugar de células normais funcionais.
PDC: Como ajudar um gato obeso a perder peso? A ração para gatos obesos é indicada?
V.Z: Assim como a dieta para perda de peso em humanos é trabalhosa e desafiadora, com um gato obeso não é diferente. Não existe uma ração para perda de peso que resolverá o problema se a quantidade ingerida não for calculada! Infelizmente, é comum vermos tutores oferecendo ração light para gatos, mas oferecem sem restrições.
Todo e qualquer esquema de perda de peso deve ser calculado. As dietas comerciais para gatos, independentemente de qual, apresentam carboidratos pouco necessários ao metabolismo do felino, considerado carnívoro estrito. Esses animais necessitam, portanto, de proteína animal e pouco carboidrato. Entretanto, para o processo de fabricação, essa concentração de carboidratos é necessária, atingindo de 25 a 40% do total da dieta.
O alimento ideal para o felino é o alimento úmido (sachê para gatos), rico em proteína animal, baixa concentração de carboidrato e alta concentração de água, ou seja, de baixa caloria.
Além disso, existe uma tendência de falha ao orientar os tutores sobre a prevenção da obesidade felina após a castração de gato. Um animal castrado tem seu metabolismo reduzido em 30% em média, portanto, a necessidade calórica diária desse paciente é 30% menor. Se o gato continuar a comer a mesma ração, na mesma quantidade, não é surpresa que ele venha a engordar e a culpa não é da cirurgia.
O ideal é que, devido a essa alteração no organismo, seja feito um cálculo com base na necessidade diária de ingestão calórica do gato e não apenas prescrever ração para gatos castrados sem restringir a quantidade.
A medicina veterinária está em constante evolução, as especialidades estão crescendo cada vez mais, e nesse sentido, clínicos gerais e especialistas devem trabalhar em conjunto para não somente curar doenças. Especialmente no caso da obesidade, o segredo está na prevenção, que deve ser passada ao tutor do pet desde a consulta pediátrica do filhote.
Redação: Juliana Melo