O carrinho para cachorro deficiente é o melhor amigo do dog que ficou paraplégico, seja qual for o motivo. A Julieta é uma linda Golden Retriever muito amada pelos seus tutores e que há dez anos os acompanha em viagens ao redor do mundo. Em 2021, porém, a possibilidade de ter Mielopatia Degenarativa mudou um pouco seu trajeto. Nesta história real sobre cachorro, o Patas da Casa conversou com o Leandro Sosi, dono do perfil no Instagram @julietapelomundo, que nos contou como foram as viagens e todos os desafios nesta nova fase da sua aumiga após descobrir que é um cachorro deficiente. Confira!
A Julieta pelo mundo antes de perder o movimento das patas
Sair e conhecer novos lugares é sempre muito gostoso e viajar com cachorro não poderia ser diferente. Leandro Sosi sempre amou viajar, e após adotar a Julieta, não deixou essa parceria de lado e levou a Golden Retriever para conhecer o mundo: “Julieta conheceu seis países: Portugal, Espanha, França, Suíça, Itália e Mônaco. Até pra Osasco ela já foi. A experiência de viajar com ela foi muito melhor do que imaginávamos, pois como escolhemos fazer tudo de motorhome, tudo ficou um pouco mais prático. O mundo acabou sendo seu quintal”, detalha.
Leandro também relembra as partes não tão divertidas: a burocracia com a documentação para viajar com cachorro, mas eles não desistiram. “O maior desafio, sem a menor dúvida, foi tirar a documentação necessária para a viagem. Todo o processo levou quase 6 meses e mesmo assim quase perdemos um prazo importante para um dos documentos, pois as informações dos órgãos competentes estavam desencontradas e nós só conseguimos embarcar a Julieta porque uma amiga que é agente de viagens comprou uma baita briga com a companhia aérea e acabou vencendo”, explica.
Mas no final, Leandro menciona que todos os empecilhos valeram a pena: “Os melhores momentos foram muitos! Um em particular ficou em nossas memórias: quando ela conheceu a neve, na fronteira da Itália com a Suíça. Ela simplesmente enlouqueceu, parecia ter descoberto o sentido da vida”, recorda emocionado.
Cachorro deficiente: os desafios e adaptações para os tutores
A mielopatia degenerativa em cães é uma doença parecida com a esclerose lateral amiotrófica (ELA) dos humanos. Ambas causam a perda gradual dos movimentos e, consequentemente, passam a afetar órgãos internos, causando muito sofrimento aos portadores e aos seus familiares. Geralmente é uma condição que afeta o cão na fase adulta.
Os sintomas da Julieta surgiram quando ela estava prestes a comemorar dez anos de vida. Uma das características da doença é o andar torto e uma leve apatia do cachorro. Prontamente, Leandro percebeu essa mudança de comportamento e não hesitou em investigar oque poderia estar errado: “Em julho de 2021, ela então com 9 anos, começou a ter falhas nas patas traseiras, como se estivesse bêbada. Não conseguia mais levantar em superfícies lisas. Imediatamente levamos em um ortopedista, que diagnosticou Síndrome da Cauda Equina, que teria que ser resolvida com cirurgia. Tentamos primeiro células-tronco, porque devido à idade avançada tínhamos medo da cirurgia. Não funcionou. Fizemos a cirurgia, acabou correndo tudo bem, mas também não resolveu o problema”, relata.
Diagnóstico da Mielopatia Degenerativa não é fácil
Infelizmente, a Mielopatia Degenerativa tem seu diagnóstico fechado somente após a morte do cão. Sem notar alguma melhora, Leandro não desistiu e continuou buscando respostas para o quadro da amada Julieta. Por fim, ele explica que não foi fácil ouvir sobre essa doença, mas que todo amor e carinho que carrega pela peludinha foi a base para que não desistissem: “ Depois nós levamos [a Julieta] em um veterinário especialista em neurologia. Ele pediu uma ressonância magnética e chegou-se à conclusão da mielopatia, um diagnóstico por exclusão. A notícia caiu como uma bomba, especialmente porque depois que a mielopatia é diagnosticada, o animal costuma vir a óbito muito rápido. Alguns falam em duas semanas. O que nos deixou mais tranquilos foi que o neurologista disse que eventualmente a doença pode estacionar. Talvez fosse o caso da Julieta, já que ela estava sem andar há uns três meses. Hoje já não temos mais certeza se é isso o que ela tem, pois já se passou mais de um ano de paraplegia”, conta.
Leandro também menciona como os cães são uma espécie de esponja emocional de seus tutores, compartilhando alegrias e mágoas. Mesmo sendo um detalhe para a Julieta, ele explica que ela não deixou de sentir seus anseios: “Cães são nossos espelhos emocionais. (...) Se eles detectam alguma instabilidade na matilha, eles agem pela estabilidade. Talvez surja alguma ansiedade ou agressividade, por exemplo. Quando nós conseguimos relaxar com essa nova condição dela, percebemos que ela também conseguiu relaxar muito. Por isso, temos absoluta certeza de que ela, mesmo nessa condição, continua sendo um cão feliz.”, conta. Nessas horas, recorrer à psicologia canina pode ser um caminho para entender as emoções do cão e também como seus tutores devem lidar com essas adversidades.
Julieta é acompanha por diferentes profissionais para ter mais qualidade de vida
A cadeirinha para cachorro deficiente é uma dos acessórios que os tutores buscam quando o cão perde os movimentos, mas ainda está com o resto da saúde em dia. Sabendo disso, os tutores da Julieta não hesitaram em buscar essa ferramenta: ela começou a usar a cadeira de rodas para cachorro, além de fazer outros tratamentos para amenizar os seus sintomas: “Fazemos reiki, acupuntura, quiropraxia, aplicação de ozônio, kinesio tape para estímulo neurológico, laser, magneto, enfim… Porque afinal, nunca sabemos o que pode acontecer”, explica o Leandro que acredita que mesmo com essa doença, a Julieta ainda é uma peludinha muito feliz.
Cachorro com deficiência: sinônimo de mais amor e carinho
Infelizmente o cachorro com deficiência têm mais dificuldades para ser adotado e o Leandro sabe muito bem disso. Para ajudar, ele decidiu ter a nobre atitude de deixar a Julieta para a pesquisas após morte, ajudando outros cachorros. Afinal, mesmo comum, a Mielopatia Degenerativa ainda sofre escassez de pesquisa. “Já sinalizei para seu time de veterinários que adoraria contribuir para alguma pesquisa, doando seu corpo para estudos em alguma universidade e assim, quem sabe, ajudar outros cães. Os veterinários nos informaram que existem pouquíssimos estudos de casos com esse, porque os tutores costumam optar pela eutanásia assim que recebem esse tipo de diagnóstico”, diz.
Para incentivar que mais cães deficientes recebam um lar através da adoção canina, Leandro diariamente mostra na página do Instagram “Julieta Pelo Mundo” (@julietapelomundo) que apesar das limitações, a Julieta e sua família são muito felizes: “São muitos e muitos aprendizados. Tanto que a única solução está sendo escrever um livro sobre nossa história. Temos muito o que compartilhar, muito mesmo. Não só a respeito da visão de mundo dos cães e seu comportamento, mas o que eles nos proporcionam em termos de autoconhecimento. Julieta mudou nossas vidas de maneiras que jamais poderíamos imaginar e talvez sua história consiga mudar a vida de muita gente e de outros cães também”, se emociona.
E para os tutores que recentemente descobriram que seus amigos são deficientes, ele encoraja: “Sofram o que tiverem que sofrer, depois enxuguem as lágrimas e deixem que os ensinamentos inundem seu coração e te transformem num ser humano melhor. Nossos cães entram em nossas vidas para isso. Encare como uma imensa oportunidade.”
Redação: Erika Martins
Edição: Mariana Fernandes e Luana Lopes