Cuidar de um cachorro paraplégico, cego ou com algum outro tipo de deficiência não é uma tarefa simples. Um cachorro com qualquer tipo de necessidade precisa de cuidados especiais no dia a dia e, para isso, o tutor deve ter uma grande responsabilidade. Afinal, esses cães merecem uma qualidade de vida tão boa quanto qualquer outro animal. Porém, por precisarem de um nível maior de atenção e cuidados (além de gastos com suporte para ajudar cachorro andar e tratamentos especiais), é muito mais difícil que alguém opte por adotar um cãozinho com certa limitação.
O Patas da Casa conversou com Carlos Pinotti, que é voluntário no abrigo Associação Amigos dos Animais de Nova Odessa (AAANO), para entender melhor como é a dinâmica de adoção de pets com deficiência. A ong é nossa parceira no Adota Patas, projeto de adoção de cães e gatos. Além disso, fomos atrás de dicas para cuidar de um cachorro com deficiência com quem convive com essa situação diariamente: a advogada Tereza Guerreiro cuida de 3 cachorros com deficiência e contou mais sobre essa experiência. Confira!
O cachorro com deficiência é sempre a última prioridade para adoção
Ter um cachorro cego, um cachorro surdo, um cachorro paraplégico ou com qualquer outra deficiência demanda muita responsabilidade, tempo, atenção e amor. Infelizmente, nem todas as pessoas podem ou querem se comprometer a cuidar desses animais. Por isso, o cachorro com deficiência normalmente é mais rejeitado na hora da adoção. A Associação Amigos dos Animais de Nova Odessa atualmente tem cerca de 500 animais, entre cães e gatos. Alguns deles têm certos tipos de deficiência e, segundo Carlos Pinotti, esses são os que têm mais dificuldade na hora de encontrar um lar: “É muito difícil um cachorro com deficiência ser adotado e a gente também fica com receio porque sabemos que vai dar muito mais trabalho, muito mais gasto e tem que ter atenção constante."
Abrigo que acolhe cachorro com deficiência também enfrenta dificuldades
Com a baixa frequência de adoção de cachorro com deficiência, muitos deles passam boa parte da vida em abrigos. Carlos explica que nem sempre isso é fácil, uma vez que esses locais também enfrentam dificuldades para se manter. Ele conta que os maiores problemas são os poucos recursos financeiros, pois sobrevivem de doações (que ainda diminuíram com a pandemia) e falta de voluntários para ajudarem a cuidar dos pets. “Tem uma cachorra paraplégica que já é bem idosa. Ela não faz xixi e cocô, então temos que ficar apertando a barriga dela a cada uma ou duas horas para sair o xixi, ver como ela está, verificar se ela está assada... é um cuidado bem específico e não temos voluntário para ficar indo sempre”, conta.
Como funciona a adoção de cachorro cego, surdo, paraplégico ou com outras deficiências?
Dentro do abrigo, a AAANO faz de tudo para garantir que o cachorro com deficiência tenha uma boa qualidade de vida enquanto não recebe um lar. “Um cachorro cego tem que ter cuidado para não ficar batendo e ter um espaço mais aberto. Um cachorro paraplégico, se conseguir a cadeirinha, deve ter um piso bom para não ficar demandando muita força da pata da frente e nem ficar se arrastando com a pata traseira”, explica Carlos. Quando o pet é adotado e sai do abrigo para um lar, esses cuidados precisam ser mantidos. Por isso, é importante ter em mente que ao adotar um cachorro com alguma limitação motora você deverá ter responsabilidade e comprometimento. Carlos ressalta ainda que o cachorro com deficiência vai precisar de tratamento ao longo da vida. Portanto, o tutor deve ter uma condição que permita oferecer os cuidados especiais referentes a cada caso.
O tutor deve ajudar o cachorro com deficiência a manter uma vida ativa e com boa qualidade
Um cachorro com deficiência não é incapaz de nada. Pelo contrário: com os estímulos adequados, o cachorro com deficiência pode aprender qualquer coisa. Renata Bloomfield, médica veterinária comportamentalista, explica que os cães se adaptam muito bem à sua condição: “A gente tem que pensar que, por mais que o cão tenha deficiência, ele não é burro. Estimular esse cachorro é muito legal. Ver o quanto eles podem fazer é surpreendente."
Vale ressaltar que o cachorro com qualquer limitação não precisa apenas de cuidados físicos, mas emocionais também. Muitas vezes, não sabemos a história por trás de sua deficiência e ela pode esconder traumas. É fundamental que o animal tenha uma rotina saudável e ativa mesmo com suas limitações, pois ele tem necessidades como qualquer pet. Renata explica que um grande erro é adotar cachorro com deficiência apenas por dó. “Não pode ter pena e adotar por pena, mas adotar porque consegue dar a esse animal uma boa qualidade de vida no sentido cognitivo, físico, de demanda e gasto de energia (não é porque eles têm uma deficiência que não têm essa necessidade), além de muito amor, paciência e carinho”, explica. Portanto, é preciso gastar a energia do cachorro mesmo com as limitações.
Ao adotar um cachorro com deficiência, algumas mudanças devem ser feitas em casa
Quem decide adotar um cachorro com deficiência precisa fazer certas adaptações em casa. No caso de um cachorro cego, é fundamental ter atenção extra à disposição dos móveis. “Apresente a casa para o animal para evitar que ele bata com a cabeça. Tire o máximo de objetos possíveis do caminho para que ele não se machuque e tenha mais confiança para andar”, explica Renata. Já para um cachorro paraplégico, o cuidado varia de acordo com o local da deficiência. Ter um suporte para ajudar cachorro andar é muito importante para facilitar sua locomoção. "Se a deficiência for de dois membros traseiros ou dianteiros, temos que pensar em uma cadeira de rodas para cachorro se locomover. Então, tem que ver se a casa tem espaço para que o cão se locomova com a cadeirinha”, esclarece.
Quem tem um cachorro surdo, por sua vez, deve aprender a chamá-lo de outras maneiras. "Pense sempre na forma que você vai chegar nesse animal e se comunicar com ele, o que pode ser feito por meio de luz. Você chama ele e acende uma luz. Se o cão estiver dormindo, você realmente tem que ir lá chamá-lo”, orienta Renata. Evite tocar o animal sem que ele o veja antes, pois isso pode assustá-lo.
Adotar cachorro com deficiência é um desafio que traz muitos aprendizados
Tereza Guerreiro é uma advogada de 51 anos que vive em Nova Odessa, São Paulo. Atualmente, ela tem 5 cachorrinhos, sendo que 3 deles têm deficiência. Seu interesse em adotar cachorro com algum tipo de limitação começou com o Sam, um Lhasa Apso com leucemia. Muitas pessoas a aconselharam a não ter o pet por conta de sua doença, já que ele estava muito frágil e não teria muita expectativa de vida. Terezinha ficou muito triste com a situação e decidiu cuidar do animal mesmo assim. “A história do Sam me ensinou muito e me convenceu que tem mais cachorros doentes precisando de ajuda. Foi quando eu comecei a olhar os cães com algum tipo de deficiência”, explica a advogada. Desde então, Tereza passou a ter a adoção de cachorro com deficiência ou doença como sua missão de vida.
Pipa, Sol e Mel são cadelas com deficiência que ganharam um lar cheio de amor
Tereza adotou três cachorros ao mesmo tempo: Pipa, Toddy e Ema. Toddy era um cachorro cego de um olho e paraplégico, mas era mais velho e logo morreu. Ema também era paraplégica e tinha mais idade, falecendo 60 dias após a adoção. Já Pipa, uma vira-lata paraplégica, tem cerca de 14 anos e vive com Tereza até hoje. “Ela não tem a patinha traseira e usa fralda para cachorro com incontinência urinária. É extremamente dócil, apaixonada, não briga com os outros, fica sempre no cantinho dela e todo mundo fala que tem um olhar apaixonado”, conta Terezinha. Para completar a família, veio a Sol, uma vira-lata caramelo.
Ninguém sabe ao certo a história da Sol, mas aparentemente ela estava brincando com outros cães perto de uma máquina de campo e acabou prendendo a patinha nela, precisando ser amputada. Por sorte, Terezinha estava com Pipa na clínica veterinária no mesmo dia e viu Sol. Ela ficou triste com a situação da cachorra e não parava de pensar nela. "Depois de três dias fui lá e levei a Sol para casa. Não tive coragem de deixar ela lá e a trouxe na mesma hora”, conta. Por último veio a Mel, também vira-lata. Ela foi atropelada no bairro de Tereza, que ajudou a socorrer a cadelinha. “Mel teve a região da bacia fraturada e a recuperação seria delicada. Eu sei que o canil não tem as condições de cuidar de cachorrinhos assim porque eles tem muitos animais e esses casos requerem atenção. Então fui lá, peguei a Mel e a trouxe para casa também."
Adotar cachorro com deficiência é um ato de amor e cuidado
Sem dúvidas, adotar cachorro com deficiência não é fácil. É preciso fazer muitas adaptações dentro de casa e na própria vida pessoal. Terezinha, por exemplo precisou mexer no chão de casa para colocar um piso para cachorro ideal para facilitar a locomoção dos pets com dificuldades. Além disso, passou a contar com cadeirinhas e carrinhos de passeio. Ela até mesmo optou por trabalhar em seu escritório dentro de casa para ficar mais tempo perto de seus animais. Porém, mesmo com todas essas mudanças, a tutora não se arrepende nem por um segundo de ter tomado a decisão de adotar cachorro com deficiência. “Se eu fiz alguma coisa boa na vida, foi ter adotado esses cachorrinhos. A deficiência deles não é uma deficiência, eles amam igual - ou mais ainda. E todos eles sabem reconhecer quando você faz alguma coisa boa para eles”, completa.
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Publicado originalmente em: 28/07/2022
Atualizado em: 30/05/2022