A insuficiência renal em gatos é uma doença que pode ser muito comum quando falamos de felinos. Sem cura, o problema precisa de acompanhamento constante e cuidados especiais para evitar complicações. Apesar de ser uma doença grave, o gato com problema renal pode ter qualidade de vida. Para tirar as dúvidas sobre a insuficiência renal em gatos, o Patas da Casa conversou com a médica veterinária Izadora Souza, do Rio de Janeiro. Vem conferir!
Patas da Casa: O que causa a insuficiência renal em gatos?
Izadora Souza: Os gatos têm uma maior tendência a sofrer com insuficiência renal do que os cães por uma questão de hábito e de manejo. Eles precisam ingerir uma quantidade de água diária que dificilmente vai ser ingerida só com potinho de água e às vezes nem com a própria fonte (que a gente sempre indica porque os gatos, muitas vezes, preferem beber água corrente do que a água do potinho). Então, isso acaba causando uma sobrecarga no rim, já que o organismo não recebe a quantidade de água necessária.
PC: A insuficiência renal em gatos pode ter relação com outras doenças?
IS: A insuficiência renal até pode [ter relação com outras doenças]. Pode acontecer em um gato que tenha cistite (processo de inflamação do trato urinário inferior muito comum em gato com estresse). Às vezes, várias cistites por estresse podem predispor a uma infecção bacteriana que pode subir para o trato urinário superior e causar um problema renal. Além disso, não é muito comum que gatos sejam cardiopatas, mas a cardiopatia pode ser uma doença primária a uma insuficiência renal. Então sim, existem algumas doenças que podem predispor a uma insuficiência renal.
PC: Existe alguma idade para o animal se tornar renal ou isso não faz diferença?
IS: Não existe idade para que o gato se torne renal. Mas, na maioria das vezes, quando a gente tem um gato renal que é pura e simplesmente por questão de hábitos de vida e de manejo, a tendência é que isso vá se manifestar quando o gato já estiver mais velho. Temos um número maior de pacientes renais já com uma idade mais avançada, a partir de 6 ou 7 anos. Mas isso não impede que um gato novo tenha insuficiência renal. Como eu falei, pode ser, inclusive, congênita, ter uma predisposição a desenvolver isso.
PC: Existe diferença entre cálculo renal e insuficiência renal?
IS: Na insuficiência renal, acontece um acometimento da função do rim. Esse rim não está funcionando como deveria. Já o cálculo renal é uma formação sólida que fica ali dentro do rim. Tem vários tipos de cálculos renais, de materiais diferentes e que se formam por motivos diferentes (como diferença de ph ou uma alimentação inadequada). Muitas coisas predispõem a formação de cálculos, mas é muito possível e comum ter um gato que é insuficiente e não tem cálculo renal. E também tem pacientes que têm os dois. Mas uma coisa é diferente da outra.
PC: Quais os sintomas da insuficiência renal em gatos?
IS: Ele pode aumentar a ingestão de água, ficar com o apetite diminuído (porque o aumento da ureia no sangue, que é uma consequência da insuficiência renal, deixa o animal enjoado), pode vomitar e ter hálito urêmico (um odor de acetona bem forte na boca quando está com o nível de ureia alto). O gato também pode ficar apático, prostrado e um pouco mais quietinho.
PC: Existe cura para a insuficiência renal em gatos?
IS: A insuficiência renal não tem cura. O rim não é como o fígado. Enquanto o fígado é um órgão que se regenera, o rim não. Se ele estiver lesionado, vai continuar lesionado. O que a gente consegue fazer é tratar em alguns casos, acompanhar com um nefrologista e fazer reidratação desse animal com soro. É um acompanhamento para sempre e não tem cura.
PC: Existe tratamento para a insuficiência renal em gatos?
IS: O tratamento é basicamente reidratar esse animal, fazer fluido e fazer soro pelo resto da vida. A forma como isso será feito depende dos exames e da resposta ao tratamento. Vamos adequando como vai ser realizado e com qual frequência. Será preciso acompanhamento com um especialista para sempre e mudar a alimentação desse animal. Às vezes, a gente pode entrar com medicações de suporte, mas é basicamente reidratar.
PC: Como prevenir que um gato se torne renal?
IS: A prevenção da insuficiência renal é muito baseada em manejo. Uma alimentação adequada com ração balanceada e aumento da ingesta hídrica. Isso significa, pelo menos, um sachê de alimento úmido para gato por dia. Alguns especialistas em gato até recomendam que toda alimentação do gato seja úmida e não dar ração seca, mas às vezes isso não é viável. Então, o recomendado mínimo é que o animal coma pelo menos um sachê de alimentação úmida com água adicionada. Eles gostam do caldo, então podemos adicionar água nesse sachê, misturar e colocar para o gato comer todos os dias. Também é sempre bom que o animal faça check-up anual para ter acompanhamento.
PC: Quais os cuidados que um gato renal precisa ter?
IS: O gato renal precisa ser acompanhado por um nefrologista. A minha orientação é sempre acompanhar com um especialista, porque é a pessoa que de fato estudou tudo sobre aquela doença e que vai conseguir fazer o acompanhamento desse gato pelo resto da vida. É uma doença de altos e baixos. A gente pode conseguir estabilizar o animal mas, como eu falei, não tem cura, então pode agudizar a qualquer momento. É basicamente seguir o que o especialista pedir. Se for pra fazer soro todos os dias, deve fazer todos os dias, além de repetir os exames quando precisar e seguir o que for pedido sobre alimentação, sobre o que deve mudar e quais medicações vai ou não tomar.
PC: Existe transplante de rim nesses casos de insuficiência renal em gatos?
IS: Existe transplante renal sim. Tem um doador que faz um teste de compatibilidade, igual como é nos humanos. O rim saudável é retirado de um gato e colocado no outro. Mas não é uma coisa muito simples, não é algo que todo mundo faz. Existir, existe. Mas se eu já vi fazer ou indicarem? Não. Já vi indicação de hemodiálise, que é uma coisa um pouco mais viável, mais barata e mais possível. O transplante de rim existe, mas, em geral, se indica a hemodiálise.
Redação: Júlia Cruz e Maria Luísa Pimenta