Já ouviu falar na síndrome vestibular canina? Trata-se de um distúrbio neurológico que afeta a orientação espacial e equilíbrio dos cachorros, e pode ser decorrente de traumas, infecções, condições vasculares e até mesmo de uma simples otite canina. Os sinais da síndrome vestibular em cães não costumam passar despercebidos, principalmente porque é algo que deixa o animal desequilibrado, com andar cambaleante e sem noção espacial.
Mas, afinal, o que caracteriza esse problema neurológico? Cachorro precisa de cuidados especiais e pode se recuperar do quadro? Quais são os sintomas da síndrome vestibular canina que precisam de atenção? Para desvendar tudo sobre essa condição, conversamos com o médico veterinário Roberto Siqueira, que é especialista em neurologia de pequenos animais. Confira abaixo o que ele nos contou!
O que é o sistema vestibular canino?
Antes de saber o que é exatamente a síndrome vestibular, é necessário entender o sistema vestibular e sua função como um todo. Localizado no sistema nervoso do cachorro, Roberto destaca que o sistema vestibular se limita em duas vias: as periféricas e centrais. “As vias periféricas se limitam a um conjunto de estruturas localizado na orelha média e orelha interna e as vias centrais estão localizadas principalmente no tronco encefálico e região caudal do cerebelo”.
E para que serve esse sistema, afinal de contas? O especialista explica: “O sistema vestibular tem a importante função de manter a posição espacial normal dos olhos, cabeça, tronco e membros relativa ao campo gravitacional, mesmo com mudanças na aceleração rotatória e linear ou inclinação do corpo.” Ou seja, de uma maneira geral, o sistema vestibular serve para orientar os cães em relação ao espaço e à gravidade, sendo responsável também pelo equilíbrio canino.
Síndrome vestibular em cães: entenda o que é e como o problema se desenvolve
Como o próprio nome já diz, a síndrome vestibular canina refere-se a um conjunto de sinais clínicos ou doenças que atingem o sistema vestibular e, consequentemente, afetam a manutenção do equilíbrio e orientação normal do indivíduo. O quadro pode ter diferentes causas associadas, como também se manifestar a partir de causas desconhecidas. Nesse segundo caso, ele é chamado de síndrome vestibular idiopática canina.
“A síndrome vestibular em cães é considerada um sintoma ou uma região do sistema nervoso periférico ou central que foi acometido por uma doença ou patologia. Dentre elas as mais frequentes são otite canina média/interna e síndrome vestibular idiopática canina - ou seja, sem causa definida - na síndrome vestibular periférica; e neoplasias, doenças inflamatórias/infecciosas, deficiência de tiamina, condições vasculares, traumáticas e tóxicas na síndrome vestibular central. Essa disfunção neurológica é observada com relativa frequência na clínica de pequenos animais podendo ser de origem genética ou não”.
Síndrome vestibular e labirintite em cachorro: qual a relação entre os dois quadros?
Assim como acontece com os humanos, o cachorro tem labirintite e muitas vezes os sinais acabam se confundindo com a síndrome vestibular canina, mas não necessariamente são a mesma coisa. De acordo com o neurologista, existe uma lógica para relacionar um quadro com o outro, mas também é possível observar diferenças: “Podemos relacionar a síndrome vestibular periférica com a labirintite devido ao fato de que o labirinto está localizado na região de orelha interna. A diferença é que a síndrome vestibular é uma síndrome que envolve a região periférica e central, enquanto a labirintite envolve apenas a região de orelha interna do sistema vestibular periférico”.
Síndrome vestibular canina: sintomas para ficar atento
Como este é um problema neurológico em cachorro que afeta significativamente o equilíbrio do animal, os tutores logo notam algumas alterações no comportamento canino que indicam que há algo de errado com o pet. Andar cambaleando, manter a cabeça fora do eixo normal em posição inclinada e até mesmo tremores podem ser percebidos nesses casos. Por isso, se seu cachorrinho tende a ficar com a cabecinha de lado e parece estar desorientado ao caminhar pela casa, vale redobrar a atenção com ele.
Para não restarem dúvidas, os principais sintomas que são associados com a síndrome vestibular em cães são:
- Head tilt (inclinação da cabeça)
- Nistagmo (movimento involuntário dos olhos, podendo ser horizontal, vertical ou rotatório)
- Estrabismo
- Ataxia vestibular (perda de equilíbrio que pode resultar em vertigem e náusea)
- Síndrome de Horner (quadro que deixa a pálpebra caída)
- Paralisia facial
- Déficits proprioceptivos
- Sonolência
- Alterações cerebelares
Para distinguir a síndrome vestibular canina periférica e central, Roberto diz que uma das formas de diferenciar uma da outra é pelos sintomas observados em cada quadro. Enquanto algumas manifestações são mais comuns na síndrome periférica - como náuseas, quedas e rolamentos -, outras estão mais presentes na síndrome vestibular central - como sonolência, alteração do estado mental e sinais cerebelares (região do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e postura, controle do tônus muscular, ajustes dos movimentos corporais e aprendizagem motora).
De toda forma, uma avaliação médica é fundamental nessas horas, pois somente um profissional qualificado e, preferencialmente especializado em neurologia veterinária, poderá diagnosticar corretamente o estado do paciente.
Como é feito o diagnóstico da síndrome vestibular canina?
Se houver qualquer suspeita de algum problema neurológico em cachorro, independentemente de ser a síndrome vestibular ou não, o mais recomendado é buscar auxílio médico o mais rápido possível. Quanto antes a doença for detectada, melhor será o prognóstico. “O diagnóstico é realizado através do exame físico neurológico, anamnese detalhada e exames complementares e neuroimagem como:
- Exame de sangue em cachorro (hemograma)
- Exame bioquímico
- Sorologias
- PCR
- Exames hormonais
- Análise do líquido cefalorraquidiano
- Otoscopia
- Radiografia
- Tomografia computadorizada
- Ressonância magnética”
É por meio da análise deste conjunto de exames que o médico neurologista poderá definir o diagnóstico, e indicar a melhor forma de lidar com o problema.
A síndrome vestibular canina tem tratamento?
Sim, é possível tratar esse tipo de problema neurológico. Cachorro precisa, nesses casos, ter a causa primária definida para que o resultado seja efetivo. Ou seja, se a causa for um quadro de otite canina, o medicamento indicado vai corresponder ao tratamento da otite, como antibióticos ou anti-inflamatórios. Por outro lado, também é possível ter um tratamento paliativo, que é direcionado aos sintomas para evitar possíveis desconfortos no seu animal de estimação.
É o que diz Roberto: “O tratamento está relacionado com a causa primária. No entanto, temos a possibilidade de incluir um tratamento de base que podemos empregar em qualquer causa, a fim de melhorar os sinais mais incômodos para cachorro, como o uso de bloqueadores de canais de cálcio ou medicamentos anticolinérgicos, com objetivo de diminuir as vertigens e os vómitos”.
Mesmo sabendo disso, vale destacar que a automedicação não deve ser considerada. Ainda que a intenção seja boa, essa é uma atitude que pode prejudicar o seu amigo de quatro patas ao invés de ajudá-lo. Para garantir a boa recuperação do cão, é indispensável seguir todas as orientações passadas pelo médico veterinário de confiança.
Outro ponto importante é que, no caso de síndrome vestibular idiopática canina, apenas o tratamento de base costuma ser recomendado, visto que não é possível identificar a causa do problema. Os sintomas, inclusive, costumam regredir por conta própria, então o único cuidado deve ser evitar que o cachorro se movimente demais enquanto os sintomas estiverem muito acentuados.
Existe alguma forma de prevenir a síndrome vestibular em cães?
Essa é uma dúvida comum nos pais de pet, e a principal dica é ter cuidado com as doenças de base, prevenindo-as (o que consequentemente é uma forma de prevenir a síndrome vestibular canina). “O ideal é evitar a causa de base. Por exemplo, as principais causas da síndrome vestibular periférica são as otites média ou interna, então é importante ter um cuidado especial com esse tipo de problema”.
Nesse sentido, vale destacar que as orelhas do cachorro precisam de atenção para não haver qualquer inflamação local. O tutor deve limpar o ouvido do cachorro regularmente com produtos específicos para cães e que sejam indicados por um profissional. Também é importante que haja um acompanhamento periódico para se certificar de que está tudo bem com a saúde do seu pet.
Além disso, o médico veterinário acrescenta: “Sempre que observar qualquer sintoma relacionado a problemas neurológicos procurar um médico veterinário neurologista, porque quando as síndromes vestibulares - ou qualquer outra doença - são diagnosticadas rapidamente, de forma precoce e em estágio inicial, é muito mais fácil de ser tratado com êxito, em relação às doenças já avançadas”.
Redação: Juliana Melo