Cachorro

Síndrome vestibular canina: veterinário neurologista explica tudo sobre o problema que afeta os cães

Publicado - 16 Fevereiro 2022 - 17h43

Atualizado - 11 Abril 2024 - 14h35

Foto do Roberto Siqueira - Médico Veterinário Neurologista

Roberto Siqueira / Médico Veterinário Neurologista

CRMV 21163-SP

Especialista em clínica médica de pequenos animais pela Universidade de Santo Amaro (UNISA), formação em neurologia de pequenos animais pelo Instituto Fisiocare, especialista em neurologia clínica e intensiva pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Especialista em ozonioterapia e concentrados de fatores de crescimento ativado com ozônio pela AEPROMO (Associação Espanhola de Profissionais em Terapia de Ozônio) Título reconhecido pelo ISCO3 (International Scientific Committee for Ozone Therapy).

Foto da Juliana Melo - Repórter

Juliana Melo / Repórter

Jornalista formada pela Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso). Sempre amei o universo pet e meu sonho sempre foi ter um cachorro ou gato, mas essa ainda é uma realidade um pouco distante pra mim. Me sinto um pouco Felícia perto dos bichinhos, e acho fantástico poder entender um pouco melhor o comportamento deles e ajudar tantos tutores por aí!

A oportunidade de entrar na equipe do Patas da Casa foi incrível, porque apesar de não ter um pet, sempre tive muita vontade de conhecer e compreender melhor esse universo. Hoje me sinto praticamente uma ‘expert’ em comportamento de cães e gatos e uma das maiores incentivadoras da adoção animal.

• Filme com animal preferido: “Sempre ao Seu Lado”
• Uma raça de cachorro: Dachshund
• Uma raça de gato: Maine Coon
• A curiosidade favorita sobre cachorros: A maneira como um cão se comporta depende principalmente da criação que ele recebe
• A curiosidade favorita sobre gatos: Os gatos enxergam os humanos como seus semelhantes (basicamente como se fôssemos gatos gigantes)
• Sobre o que mais gosta de escrever no universo pet: Comportamento animal
• Um aprendizado: Adotar um cachorro ou gato é uma das decisões mais bonitas que alguém pode tomar, mas que precisa ser feita com muita responsabilidade
• Nome de pet favorito: Bilbo

Já ouviu falar na síndrome vestibular canina? Trata-se de um distúrbio neurológico que afeta a orientação espacial e equilíbrio dos cachorros, e pode ser decorrente de traumas, infecções, condições vasculares e até mesmo de uma simples otite canina. Os sinais da síndrome vestibular em cães não costumam passar despercebidos, principalmente porque é algo que deixa o animal desequilibrado, com andar cambaleante e sem noção espacial.

Mas, afinal, o que caracteriza esse problema neurológico? Cachorro precisa de cuidados especiais e pode se recuperar do quadro? Quais são os sintomas da síndrome vestibular canina que precisam de atenção? Para desvendar tudo sobre essa condição, conversamos com o médico veterinário Roberto Siqueira, que é especialista em neurologia de pequenos animais. Confira abaixo o que ele nos contou!

O que é o sistema vestibular canino?

Antes de saber o que é exatamente a síndrome vestibular, é necessário entender o sistema vestibular e sua função como um todo. Localizado no sistema nervoso do cachorro, Roberto destaca que o sistema vestibular se limita em duas vias: as periféricas e centrais. “As vias periféricas se limitam a um conjunto de estruturas localizado na orelha média e orelha interna e as vias centrais estão localizadas principalmente no tronco encefálico e região caudal do cerebelo”.

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E para que serve esse sistema, afinal de contas? O especialista explica: “O sistema vestibular tem a importante função de manter a posição espacial normal dos olhos, cabeça, tronco e membros relativa ao campo gravitacional, mesmo com mudanças na aceleração rotatória e linear ou inclinação do corpo.” Ou seja, de uma maneira geral, o sistema vestibular serve para orientar os cães em relação ao espaço e à gravidade, sendo responsável também pelo equilíbrio canino.

Síndrome vestibular em cães: entenda o que é e como o problema se desenvolve

Como o próprio nome já diz, a síndrome vestibular canina refere-se a um conjunto de sinais clínicos ou doenças que atingem o sistema vestibular e, consequentemente, afetam a manutenção do equilíbrio e orientação normal do indivíduo. O quadro pode ter diferentes causas associadas, como também se manifestar a partir de causas desconhecidas. Nesse segundo caso, ele é chamado de síndrome vestibular idiopática canina.

“A síndrome vestibular em cães é considerada um sintoma ou uma região do sistema nervoso periférico ou central que foi acometido por uma doença ou patologia. Dentre elas as mais frequentes são otite canina média/interna e síndrome vestibular idiopática canina - ou seja, sem causa definida - na síndrome vestibular periférica; e neoplasias, doenças inflamatórias/infecciosas, deficiência de tiamina, condições vasculares, traumáticas e tóxicas na síndrome vestibular central. Essa disfunção neurológica é observada com relativa frequência na clínica de pequenos animais podendo ser de origem genética ou não”.

Síndrome vestibular e labirintite em cachorro: qual a relação entre os dois quadros?

Assim como acontece com os humanos, o cachorro tem labirintite e muitas vezes os sinais acabam se confundindo com a síndrome vestibular canina, mas não necessariamente são a mesma coisa. De acordo com o neurologista, existe uma lógica para relacionar um quadro com o outro, mas também é possível observar diferenças: “Podemos relacionar a síndrome vestibular periférica com a labirintite devido ao fato de que o labirinto está localizado na região de orelha interna. A diferença é que a síndrome vestibular é uma síndrome que envolve a região periférica e central, enquanto a labirintite envolve apenas a região de orelha interna do sistema vestibular periférico”.

 

síndrome vestibular canina: cachorro com cabeça inclinada
A síndrome vestibular em cães se manifesta com o head tilt, que é a inclinação da cabeça

Síndrome vestibular canina: sintomas para ficar atento

 

Como este é um problema neurológico em cachorro que afeta significativamente o equilíbrio do animal, os tutores logo notam algumas alterações no comportamento canino que indicam que há algo de errado com o pet. Andar cambaleando, manter a cabeça fora do eixo normal em posição inclinada e até mesmo tremores podem ser percebidos nesses casos. Por isso, se seu cachorrinho tende a ficar com a cabecinha de lado e parece estar desorientado ao caminhar pela casa, vale redobrar a atenção com ele.

Para não restarem dúvidas, os principais sintomas que são associados com a síndrome vestibular em cães são:

  • Head tilt (inclinação da cabeça)
  • Nistagmo (movimento involuntário dos olhos, podendo ser horizontal, vertical ou rotatório)
  • Estrabismo
  • Ataxia vestibular (perda de equilíbrio que pode resultar em vertigem e náusea)
  • Síndrome de Horner (quadro que deixa a pálpebra caída)
  • Paralisia facial
  • Déficits proprioceptivos
  • Sonolência
  • Alterações cerebelares

Para distinguir a síndrome vestibular canina periférica e central, Roberto diz que uma das formas de diferenciar uma da outra é pelos sintomas observados em cada quadro. Enquanto algumas manifestações são mais comuns na síndrome periférica - como náuseas, quedas e rolamentos -, outras estão mais presentes na síndrome vestibular central - como sonolência, alteração do estado mental e sinais cerebelares (região do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e postura, controle do tônus muscular, ajustes dos movimentos corporais e aprendizagem motora).

De toda forma, uma avaliação médica é fundamental nessas horas, pois somente um profissional qualificado e, preferencialmente especializado em neurologia veterinária, poderá diagnosticar corretamente o estado do paciente. 

Como é feito o diagnóstico da síndrome vestibular canina? 

Se houver qualquer suspeita de algum problema neurológico em cachorro, independentemente de ser a síndrome vestibular ou não, o mais recomendado é buscar auxílio médico o mais rápido possível. Quanto antes a doença for detectada, melhor será o prognóstico. “O diagnóstico é realizado através do exame físico neurológico, anamnese detalhada e exames complementares e neuroimagem como:

  • Exame de sangue em cachorro (hemograma)
  • Exame bioquímico 
  • Sorologias
  • PCR
  • Exames hormonais
  • Análise do líquido cefalorraquidiano
  • Otoscopia
  • Radiografia
  • Tomografia computadorizada
  • Ressonância magnética”

É por meio da análise deste conjunto de exames que o médico neurologista poderá definir o diagnóstico, e indicar a melhor forma de lidar com o problema.

 

síndrome vestibular em cães: cachorro com cabeça inclinada
Síndrome vestibular canina: por ser um problema neurológico em cachorro, o ideal é buscar médicos especializados no assunto

A síndrome vestibular canina tem tratamento?

 

Sim, é possível tratar esse tipo de problema neurológico. Cachorro precisa, nesses casos, ter a causa primária definida para que o resultado seja efetivo. Ou seja, se a causa for um quadro de otite canina, o medicamento indicado vai corresponder ao tratamento da otite, como antibióticos ou anti-inflamatórios. Por outro lado, também é possível ter um tratamento paliativo, que é direcionado aos sintomas para evitar possíveis desconfortos no seu animal de estimação. 

É o que diz Roberto: “O tratamento está relacionado com a causa primária. No entanto, temos a possibilidade de incluir um tratamento de base que podemos empregar em qualquer causa, a fim de melhorar os sinais mais incômodos para cachorro, como o uso de bloqueadores de canais de cálcio ou medicamentos anticolinérgicos, com objetivo de diminuir as vertigens e os vómitos”.

Mesmo sabendo disso, vale destacar que a automedicação não deve ser considerada. Ainda que a intenção seja boa, essa é uma atitude que pode prejudicar o seu amigo de quatro patas ao invés de ajudá-lo. Para garantir a boa recuperação do cão, é indispensável seguir todas as orientações passadas pelo médico veterinário de confiança. 

Outro ponto importante é que, no caso de síndrome vestibular idiopática canina, apenas o tratamento de base costuma ser recomendado, visto que não é possível identificar a causa do problema. Os sintomas, inclusive, costumam regredir por conta própria, então o único cuidado deve ser evitar que o cachorro se movimente demais enquanto os sintomas estiverem muito acentuados.

Existe alguma forma de prevenir a síndrome vestibular em cães?

Essa é uma dúvida comum nos pais de pet, e a principal dica é ter cuidado com as doenças de base, prevenindo-as (o que consequentemente é uma forma de prevenir a síndrome vestibular canina). “O ideal é evitar a causa de base. Por exemplo, as principais causas da síndrome vestibular periférica são as otites média ou interna, então é importante ter um cuidado especial com esse tipo de problema”.

Nesse sentido, vale destacar que as orelhas do cachorro precisam de atenção para não haver qualquer inflamação local. O tutor deve limpar o ouvido do cachorro regularmente com produtos específicos para cães e que sejam indicados por um profissional. Também é importante que haja um acompanhamento periódico para se certificar de que está tudo bem com a saúde do seu pet.

Além disso, o médico veterinário acrescenta: “Sempre que observar qualquer sintoma relacionado a problemas neurológicos procurar um médico veterinário neurologista, porque quando as síndromes vestibulares - ou qualquer outra doença - são diagnosticadas rapidamente, de forma precoce e em estágio inicial, é muito mais fácil de ser tratado com êxito, em relação às doenças já avançadas”.

Redação: Juliana Melo

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