Um gato com deficiência requer muitos cuidados, principalmente se ele tiver alguma dificuldade de locomoção. Não é à toa que, na hora da adoção, esses animais geralmente são deixados de lado e dificilmente encontram um lar. Mas é preciso desconstruir esse pensamento e dar uma chance a esses felinos que, assim como qualquer outro, só querem encontrar uma família para amar. Por isso, trouxemos duas histórias incríveis de tutores que abriram as portas da sua casa para um gato com deficiência. A Gabriela Paraná, tutora do Pererê (@eubeliscoelapetisca ), e o Rafael Machado, que era tutor do Maguila (@ogatoderodas ) e hoje é pai de uma gatinha paraplégica chamada Magali, compartilharam um pouquinho da rotina de quem vive com um gato amputado. Prepare-se para ficar com o coração quentinho!
Afinal, como é viver com um gato amputado?
Muita gente acha que viver com um gato deficiente pode ser uma tarefa difícil, mas isso não é bem verdade. Segundo Rafael, tutor da Magali e do Maguila, a experiência é semelhante a ter um bebê em casa. “A gente precisa se adaptar um pouco para atender as necessidades deles, principalmente com relação a viagens ou se ausentar de casa por muito tempo. Mas em geral eles precisam de pouca coisa a mais que um gato normal precisaria”, enfatiza.
Para Gabriela, viver com o Pererê é uma delícia! “Quando o adotei, ele tinha acabado de ser resgatado pela ONG Amigos da Mancha e estava com a pata esquerda traseira completamente comprometida. Não havia outra opção senão amputá-la”, conta a tutora. Apesar de ter sentido um pouco de medo de que o animal não se adaptasse a amputação, Gabriela conta que o processo foi mais simples do que imaginou: “Segundo a minha veterinária, com o passar do tempo, a maior parte dos animais amputados consegue entender as suas limitações e desenvolvem, sozinhos, uma série de estratégias para lidar com a falta do membro”.
Gato deficiente: quais cuidados são necessários no dia a dia?
Cuidar de gato geralmente exige uma série de hábitos que ajudam a preservar a saúde e bem-estar do animal, mas quando o seu amigo sofre algum acidente e precisa ser amputado, a atenção deve ser redobrada. Como Rafael orienta, um dos principais cuidados com um gato deficiente é se preocupar com o ambiente que o bichinho vai viver, principalmente na questão de acessibilidade. Por isso, a gatificação da casa deve ser pensada com muita cautela. “Como eles têm limitações motoras, eu gosto de adaptar um pouco o ambiente, deixando mais brinquedos no chão e colocando uma escadinha para que ele possa subir na cama e sofá”, conta. Além disso, também é necessário controlar o acesso do gato amputado a locais perigosos, já que o risco de acidentes pode ser maior nesses casos
No entanto, a acessibilidade não é o único ponto a ser levado em consideração. Coisas básicas do dia a dia podem ser afetadas, como fazer a higiene e se coçar. “Sem a pata traseira esquerda, Pererê não consegue coçar o ouvido esquerdo", conta Gabriela. "Só me atentei para essa limitação depois de vê-lo fazer o movimento de coçar a orelha com uma “patinha fantasma” (ele faz o movimento mesmo sem ter a pata ali)”, comenta a tutora. Por isso, hoje em dia, ela que coça e limpa a orelha do gatinho sempre que percebe que ele está precisando disso. Além disso, Gabriela também conta que, segundo a veterinária do Pererê, é preciso ter atenção redobrada com ouvidos de gato amputado, pois alguns costumam se machucar tentando coçar o duto auditivo em objetos pontiagudos.
Cadeira de rodas para gatos: como é a adaptação?
Depois que um gato amputa a perna, uma das formas de deixá-lo mais confortável e independente é com o uso de uma cadeirinha para gato deficiente. O Rafael teve que lidar com essa experiência duas vezes e compartilhou como foi (e está sendo) isso: “Maguila, meu primeiro paraplégico, se adaptou muito bem desde o começo e em poucos dias já era como se a cadeirinha fizesse parte dele. Já a Magali é mais assustada e a adaptação ainda está em andamento”. Segundo o tutor, acostumar o gatinho tem muito mais a ver com a personalidade do animal do que com a cadeirinha para gato deficiente em si. No entanto, nem sempre essa estratégia é necessária. No caso do Pererê, gatinho da Gabi, o bichano conseguiu se adaptar muito bem sem o uso de cadeira de rodas para gatos.
Cuidar de gato: mesmo amputados, os bichanos têm muito amor para dar
Uma patinha a menos ou alguma dificuldade para se locomover não define um gato, até porque ele tem muitas outras coisas para oferecer. O gatinho da Gabriela, por exemplo, apesar de ter sido meio desconfiado no início, hoje em dia é puro amor: “O Pererê é maravilhoso. Um grande companheiro, o gato mais leal do mundo, o primeiro a correr para ver o que está acontecendo quando ouve algum barulho estranho… um protetor da nossa família”. Já o Rafael ressalta a troca de carinho que existe na relação com um gato amputado: “Com o tempo, parece que entendem que os cuidados são importantes e passam a ter uma conexão diferente com a gente. Aquele olharzinho apaixonado que você ganha é algo que não tem preço. Embora por fora possam parecer diferente, por dentro possui a mesma necessidade de ser amado e a mesma habilidade para manifestar carinho e trazer alegria a uma casa”.
Por isso, é muito importante acabar com esse preconceito que faz com que um gato deficiente seja mais rejeitado na hora da adoção. “Quem é capaz de amar os bichos desse jeito, entende que a vida com um pet é uma vida cheia de ternura e de aprendizado. Eles nos ensinam a ser melhores para nós e para o mundo. No caso dos bichinhos com deficiência, esse aprendizado é ainda mais profundo”, reflete a tutora do Pererê.
Para quem deseja adotar um gatinho, Rafael deixa uma mensagem: “Eu acredito que nós, humanos, temos o dever de mostrar a eles o melhor que podemos ser. É possível ter uma relação muito feliz com um bichano especial, seja ele amputado, paraplégico, cego ou até mesmo os imunodeficientes e idosos. Dê a oportunidade para um gatinho diferente de ser amado e conheça o amor mais especial que pode existir!”
Redação: Juliana Melo