O glaucoma em cachorro é um problema sério e que demanda muita atenção por parte dos tutores. Algumas raças apresentam certa predisposição para a doença, como o Poodle e o Shih Tzu, então os cuidados devem ser ainda maiores com esses pets. O glaucoma canino, conforme evolui, compromete seriamente a visão do animal e pode até levar à cegueira. Por isso, é fundamental ter o diagnóstico e fazer um acompanhamento com um veterinário de confiança.
Que tal entender melhor sobre o glaucoma em cães? O Patas da Casa entrevistou o médico veterinário Thiago Ferreira, especializado em oftalmologia, para esclarecer tudo sobre essa doença ocular de cachorro e como cuidar de Poodle com glaucoma.
O que é o glaucoma em cachorro?
O glaucoma em cães é uma síndrome ocular que não apresenta um único sinal, mas vários. Conforme o especialista explica, é importante ficar atento a possíveis alterações oculares, como vermelhidão ao redor dos olhos do cachorro, principalmente se vier acompanhada de uma mudança abrupta da coloração dos olhos, que adquire uma tonalidade azulada.
“Também existem manifestações clínicas que às vezes é difícil para o tutor perceber, como o aumento da pressão intraocular. Essa alteração da pressão é a principal característica do glaucoma em cachorro no contexto clínico e é o que promove os sinais clínicos que a gente vê, até mesmo deixando o cachorro cego.”
Para completar, é bom saber que no glaucoma o cachorro pode desenvolver a doença de duas formas. É o que explica Thiago: “O glaucoma canino agudo é aquele que acontece de forma rápida. Já o glaucoma crônico é aquele que já está presente há algum tempo, então a gente percebe que o cão começa a ter um aumento do tamanho do bulbo ocular.”
Glaucoma em cães: quais são as causas do quadro?
Para ter um quadro de glaucoma, Poodle e qualquer outra raça pode desenvolver a doença de forma primária ou secundária. Segundo o veterinário, a causa primária - ou seja, genética - é a causa mais frequente. A explicação é a seguinte: “Dentro do globo ocular tem um sistema de produção de um líquido que preenche todo o interior do olho, promove a pressão - que é o que deixa o olho com uma consistência mais dura - e depois é drenado de volta para a circulação sanguínea por uma espécie de peneira/filtro. Então isso fica circulando dentro do olho. Quando falamos de glaucoma primário, é porque acontece uma falha na formação dessa peneira.”
Além disso, também há causas secundárias do glaucoma. Cães, por exemplo, podem desenvolver o problema derivado de outro quadro pré-existente. “Uma das causas secundárias é a uveíte em cães, que é uma inflamação do olho. A uveíte pode gerar uma série de repercussões que atrapalham a drenagem que já foi citada. A questão é que uma das causas da uveíte, principalmente a longo prazo, é a catarata em cachorro. Ou seja, uma catarata que não foi operada e está muito envelhecida pode causar essa uveíte e, consequentemente, causar o glaucoma.”
Sintomas de glaucoma em cachorro para ficar de olho
Quando há suspeita de glaucoma, cães costumam apresentar alguns sintomas - uns são mais perceptíveis a nível clínico, e outros podem ser detectados pelos próprios tutores. “Em casa, às vezes o glaucoma canino passa totalmente despercebido, principalmente quando o quadro é ameno e não tem uma pressão tão alta. Mas quando a pressão é maior, ele pode ser detectado pela dilatação da pupila e uma cegueira aguda. Isso ocorre principalmente quando o glaucoma é bilateral (ou seja, atinge os dois olhos). O problema é quando o glaucoma é unilateral e não dá tanta repercussão, porque o tutor não consegue perceber que o cachorro está cego.”
Além disso, Thiago também alerta para os sinais clínicos que já foram mencionados anteriormente: a vermelhidão ao redor dos olhos, que costuma ser bem característica e em um forte grau de intensidade, e o olho com aspecto azulado. Por isso, ao ver um cachorro com olho vermelho é bom ficar atento!
O diagnóstico e tratamento do glaucoma em cães
Se você tem um cãozinho e acha que ele está com glaucoma, cachorro deve ser levado a um veterinário - preferencialmente especializado em oftalmologia - para confirmar o diagnóstico. “Ele é feito com base nos sinais clínicos, mas principalmente pela tonometria, que vai medir a pressão do olho a nível de consultório. Além disso, é possível incluir exames complementares como a gonioscopia e a biomicroscopia”, explica o profissional.
Para quem se pergunta se tem chances de cura de glaucoma nos Poodles, a resposta é não. “Infelizmente essa é uma doença que não tem cura e que geralmente é progressiva. O tratamento é feito com base em colírios que visam diminuir a pressão dentro do olho, e é igual para todas as raças. O problema é que o tratamento do glaucoma canino, se comparado com o dos seres humanos, é bem ingrato. Ele funciona no começo, mas depois o colírio acaba parando de fazer efeito.”
Por fim, Thiago conta que também existem algumas alternativas cirúrgicas. No entanto, mesmo esse tipo de tratamento a longo prazo não tem tido bons resultados. Em todo caso, lembramos que o melhor a se fazer é não automedicar o seu animal de estimação e buscar as orientações de um profissional de confiança.
Como cuidar de um cachorro com glaucoma?
Se você tem um cãozinho que foi diagnosticado com glaucoma canino, existem alguns cuidados que devem ser tomados. Veja o que o veterinário sugere: “Enquanto ainda for possível controlar a pressão com colírio é bom manter esse cuidado. Também é necessário fazer o acompanhamento com o oftalmologista veterinário que tenha tonometria. Já nos pacientes que acabaram ficando cegos por conta da doença a indicação é uma coleira pra cachorros cegos, que é uma coleira que vem com arco e que fica localizado na frente da face. Então eles acabam não batendo a face e batendo apenas o arco.”
Existem formas de prevenir o glaucoma em cães?
Não é possível prevenir totalmente o glaucoma, principalmente quando ele tem origem genética. O monitoramento da situação por um especialista, porém, é capaz de retardar a evolução do problema. “O que pode ser feito é a avaliação por um veterinário oftalmologista mesmo que o paciente não tenha sinais clínicos. A pessoa tem que buscar antes da aparição dos sinais para que seja aferida a pressão intraocular do animal.”
Com relação ao centro médico veterinário, Thiago orienta que é sempre interessante que se encaminhe para um centro que tenha gonioscopia e/ou biomicroscopia ultrassônica. “Isso possibilita a avaliação do ângulo de maneira mais apurada, mais detalhada e dependendo do resultado o médico pode passar ou não o colírio preventivo. Mesmo que esse paciente não tenha sinais clínicos ainda.”
Com relação aos casos de glaucoma em cães secundários, é importante avaliar se o paciente tem outras doenças de base, outras doenças oculares em cães. “É bom que esse paciente passe por um oftalmologista de maneira preventiva para ver se ele não tem outras doenças que podem depois acabar culminando em glaucoma secundário, como é o caso da inflamação intraocular causada pela catarata em cães.”
Redação: Juliana Melo
Edição: Luana Lopes