O ataque de Pitbull que aconteceu na primeira sexta-feira de abril (05) envolvendo a escritora Roseana Murray, em Saquarema (RJ), repercutiu em todo o país e reacendeu o alerta da população. Nas redes sociais, surgiram muitas discussões envolvendo essa raça de cachorro. Há quem diga que Pitbull é um cão naturalmente agressivo, e há quem culpe os maus-tratos e negligência que os animais da raça sofrem nas mãos dos donos.
Para entender melhor o que motiva os ataques de Pitbull, como deve ser a criação ideal da raça e o que fazer em casos de ataques e mordida de cachorro, o Patas da Casa conversou com a Renata Bloomfield, médica veterinária comportamentalista. Veja o que ela nos contou!
Cachorro Pitbull: por que a raça costuma estar associada a episódios agressivos?
Antes de tudo, é importante lembrar qual é a origem do Pitbull. Esse cão foi originado a partir do cruzamento do Bull Terrier com outras raças. O Bull Terrier, por sua vez, é conhecido por ter uma mandíbula forte e foi desenvolvido para lutas. Com o Pitbull, isso não foi tão diferente. “A função inicial dele, de fato, é a luta. Porém, ele também veio de raças que são dóceis. Por isso, muito do que está acontecendo é por conta da criação”, explica Renata.
Segundo a especialista, existem outras raças que, se forem analisadas individualmente, também são conhecidas pelo ataque de cachorro. O que diferencia o Pitbull dessas outras raças — como Golden Retriever, Chihuahua e Pinscher — é o potencial de lesão que o Pitbull tem.
Para se ter uma ideia, a força da mordida de um Pitbull é de, aproximadamente, 235 PSI. Ele é considerado uma das raças de cachorro com a mordida mais forte, mas está longe de ocupar o primeiro lugar, que pertence ao Kangal, com 746 PSI. “Por ele ter uma mandíbula muito forte, dificilmente ele solta a presa dele. E ele é um um animal muito musculoso. Então o potencial de lesão dele é muito grande, muito preocupante.”
A criação do Pitbull requer muita responsabilidade
Para a veterinária Renata, tutores de cachorros grandes como Pitbull, Cane Corso e Bull Terrier precisam saber criar essas raças com responsabilidade. “O Pitbull é um cachorro dócil. Qualquer animal, dependendo de como você cria e de como você cuida, é um animal dócil. O problema do Pitbull não está no animal em si, o problema na verdade está em quem tem esse Pitbull.”
De acordo com a profissional, quando o cachorro tem as necessidades básicas atendidas, dificilmente vai atacar alguém. O grande problema é que muitas pessoas adotam o Pitbull para desempenhar o papel de cão de guarda, mas sem fazer um treinamento adequado. “O público que pega o Pitbull para 'guarda' é um público que não sabe trabalhar o cão para fazer guarda”, comenta.
“[A pessoa] acha que deixar um animal longe do contato com pessoas, longe do contato com a família, alimentar somente uma vez ao dia e privar esse animal de um convívio social, privar de alimento, vai deixá-lo mais apto pra guarda quando, na verdade, você está criando um animal sob maus-tratos e privando ele das necessidades básicas dele. Então isso sim vai tornar um cachorro agressivo.”
Isso vale, inclusive, para quem mantém o cachorro isolado, sem participar do convívio familiar. “Esse animal não vê a pessoa, ele não conhece a pessoa, então ele vai atacar essa pessoa. Por isso que muitas vezes a gente vê esses animais atacando principalmente membros da família.”
Ataque de Pitbull às vezes é confundido com outras raças
Existem alguns “tipos de Pitbull” — que, na verdade, são apenas outras raças de cachorro fortes e musculosas que são confundidas comumente com o American Pitbull Terrier, o original. Conforme Renata explica, isso acontece porque alguns desses cães têm a mesma origem ou compartilham ancestrais em comum, como o Bull Terrier.
Em todo caso, a culpa de um ataque de Pitbull não costuma ser do próprio cão, mas do ambiente em que ele vive. A personalidade do Pitbull não é para ser agressiva, e o mesmo acontece com outras raças taxadas de agressiva. “O Pinscher, por exemplo, não é um cão agressivo, mas a gente vê muitos Pinschers rosnando, sempre nervoso, e todo mundo fala que é da raça. Não, não é da raça. É o público que tem essa raça que leva o cão a ter esse padrão de comportamento. Então a gente tem que pensar muito em como o animal vive e quem é o público que se identifica com essas raças.” Por isso, o ataque de Pitbull ou de qualquer outra raça pode ter motivações que envolvem a forma como o animal foi criado ou as condições em que ele vive.
É possível criar um cachorro Pitbull com personalidade dócil?
“A criação do Pitbull é como de qualquer outra raça. Ele tem que ter as suas necessidades básicas supridas. É manter o animal em um local limpo, livre do sol e do calor excessivo, livre de chuva. É alimentar esse animal corretamente, deixar que ele tenha contato com as pessoas da família, tenha contato com visitas, tenha contato com crianças desde cedo”, orienta a comportamentalista.
Para quem tem o desejo de ter um cão de guarda, os cuidados devem ser mantidos e o treinamento precisa ser orientado por um adestrador de confiança para evitar o ataque de Pitbull ou de qualquer outra raça. Além disso, é muito importante observar se você não tem um cachorro doente ou com dor. “Às vezes o animal está com uma dor, alguma bicheira. Algumas agressões são por dor. Então tem que ver se está tudo direitinho, levar com frequência no veterinário. São cuidados básicos que qualquer pessoa deveria ter, já que se propôs a ter um cão.”
Como prevenir um ataque de cachorro?
Existem sinais que indicam o ataque de Pitbull e de qualquer outro cachorro. A postura corporal do pet é o que deve ser observado. “Ele pode ir pra cima da pessoa de forma predatória ou correr e ir pra cima como se estivesse defendendo alguma coisa. Ou se defendendo por estar com medo, ou defendendo o território. É avaliar o contexto.”
Em todo caso, é possível tomar algumas atitudes para não sair ferido. De acordo com Renata, é bom evitar contato visual com o cachorro nesses episódios. Outro ponto importante é não correr em hipótese alguma. “Se você muda a sua postura, se você sai correndo e grita, você vira uma presa pra ele. Então aí você instiga esse animal a correr mais ainda atrás de você, até você parar. É aquela história de se fingir de morto. Ficar parado, respirar fundo, não olhar pro animal e esperar ajuda. Começa a andar devagar, mas evita o contato visual, evita movimentos bruscos e o ideal, na verdade, é que a pessoa que tem esse cachorro mantenha o animal sob controle.” O uso da focinheira para cachorro, por exemplo, é indicado.